Um Colete Encarnado de praça cheia


Domingo de Colete Encarnado, uma das mais míticas tardes Ribatejanas. Em Vila Franca respira-se aficion depois de uma turbulenta e animadíssima noite de festejos popular com muita sardinhada, cerveja, vinho, musica e toiros. A Palha Blanco, meia hora antes da corrida da tarde é o centro do “nosso” mundo taurino ou não fosse o culminar da festa dedicada à muito carismática figura do campino. Neste quente domingo 5 de Julho, iriam estar em praça grandes figuras do toureio nacional, António Telles, Pedrito de Portugal, os toiros de Charrua e de Falé Filipe e ainda o Grupo de Forcados de Vila Franca de Xira. A resposta do público a este cartel: praça cheia!

Às 6 da tarde os artistas entraram em praça. Um surpreendente “paseillo” do matador, invulgar convenhamos e as tradicionais cortesias por parte dos restantes artistas. Se a ideia era marcar a diferença, então nesse particular resultou, se é de bom gosto, isso já fica ao critério de cada espetador presente.

Os toiros Charrua desta tarde (os da lide equestre) estiveram excelentemente apresentados, sem peso excessivo e com um comportamento dentro da linha habitual, sérios e a cumprir bastante bem no que toca a nobreza durante a lide e respetiva pega.

A 1ª pega da tarde teve como forcado da cara o Rui Godinho. Esteve como habitualmente sereno e conhecedor dos terrenos que pisava, carregou na altura certa alegrando convenientemente a investida do toiro, aguentou e recuou o necessário para se fechar exemplarmente. Foi fechado à córnea que entrou velozmente pelo Grupo dentro e este correspondeu com excelentes entradas, desde o 1º ajuda Bruno Tavares até aos 3ªs num cacho de forcados que envolveu o excelente Charrua em mais uma grande pega, rematada no seu final por um rabejador em grande forma, o Carlos Silva. Um bom pronúncio para a exibição desta tarde.

A 2ª pega da tarde teve como forcado da cara designado o Ricardo Patusco, um ano após uma grande pega e uma das grandes lesões que o apoquentou ao longo da sua brilhante carreira. Mas isso foi algo que certamente lhe passou ao lado naquele momento e foi com a calma e o saber que se lhe conhece que se fez ao toiro. Deve ter sido uma das pegas mais fáceis que o Ricardo fez na vida já que o toiro praticamente entrou derrotado na pega e não complicou um milímetro, facto ao qual o forcado da cara e o Grupo de ajudas correspondeu do mesmo modo, consumando-se assim esta pega, eficaz embora com pouco “sal e pimenta”.

A 3ª e ultima pega da tarde a um toiro que criou grandes dificuldades ao cavaleiro foi atribuída ao Pedro Castelo na função de forcado da cara. O Pedro esteve toureiro no cite e como conhecedor exímio dos terrenos onde tudo se passa, carregou pela certa, alegrou a investida e após recuar o necessário para o tipo de toiro que enfrentava, “trancou-se” excelentemente, enchendo a cara ao toiro. O Tiago “Salsa” entrou muito bem e o resto do Grupo seguiu-lhe o exemplo, formando-se entretanto um bloco onde cada peça esteve no sítio certo a efetuar os movimentos certos para culminar mais uma excelente pega e por inerência a fechar com chave de ouro a boa exibição desta quente tarde de Domingo de Colete Encarnado. Ao sair do toiro, o Pedro sofreu uma lesão no joelho, ressentindo-se de problemas antigos, uma das medalhas que vai levar desta carreira de forcado. Felizmente, numa fase posterior veio a recuperar mas no momento apenas conseguiu agradecer nos tércios com alguma dificuldade.

O jantar que se seguiu na tertúlia foi um bom culminar de festa, terminando já o sol raiava, através de alguns resistentes mais propensos a não funcionar ao sabor do tempo mas sim do que lhes mate a sede. Afinal, já só faltavam pouco mais de 360 dias para o próximo Colete Encarnado.

Paulo Paulino “Bacalhau”

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