Tarde de boas pegas em Vila Franca


Num domingo de corrida em Vila Franca, presenciar no Páteo de quadrilhas da Palha Blanco a Banda do Ateneu a iniciar o Pasodoble da tradicional entrada na arena da praça ultrapassa qualquer inspiração descritível por palavras. Pode-se viver 50 vezes esse momento, mas é sempre único e igualmente empolgante.

Foi assim que abriu a corrida deste domingo, mais um concurso de ganadarias nesta centenária praça, com meia casa, manifestamente escasso para uma empresa que vive a festa com seriedade e tenta proporcionar aos aficionados a verdadeira essência de uma corrida de toiros disponibilizando por norma corridas onde a “verdade” é uma imagem de marca. São sinais reais de uma crise que uns poucos provocaram e muitos outros estão a pagar, o que invariavelmente se traduz na ausência destes eventos tão do agrado dos ditos “pagadores”.

Felizmente as quase 3 horas de momentos de emoção que se viveram ajudaram a abstrair a mente e foi neste patamar que se situou o fator marcante desta corrida, com manifesta primazia para as emotivas pegas que os grupos de Vila Franca e Alcochete proporcionaram frente a toiros sérios e duros, a maioria a dar para o manso que afinal até ficou traduzido no resultado final da votação no que toca ao prémio de bravura, o motivo maior desta corrida. Deduzo que também terão chegado sinais de crise ao modo de apreciar a bravura de um toiro.

Compridos e curtos à parte, as pegas foram rainhas solteiras só acompanhadas pela sensação de perigo emanada pelos oponentes que ficaram sempre vencidos pela competência, raça e atitude de quem os enfrentou com honestidade, saber, vontade e muita tradição.

O grupo de Vila Franca abriu praça frente a um Palha muito sério que não dava margem para o mínimo erro através do seu cabo (por falar em tradição…) Ricardo Castelo que  honrou da melhor maneira quem presenciava o espetáculo nessa tarde, com uma pega de encher o olho. Um grupo de forcados a pegar é representado por 8 forcados em praça mas quando já transparecia que a praça seria grande demais para apenas 8 elementos devido á dificuldade que após a reunião o toiro transmitiu, baixando a cara e fugindo ao grupo, surgiu uma segunda ajuda providencial e competentíssima do André Matos que junto com o Ricardo resolveram o problema ja encostados ao estribo do setor 1, onde chegou o resto do grupo e se resolveu definitivamente e da melhor maneira uma duríssima pega. Obviamente que o corolário deste momento foi uma merecidíssima e bastante ovacionada volta com ida aos médios para ambos os forcados. Todos sentimos que foi a melhor maneira de homenagear a nossa Madrinha, dona Maria Victória a quem o grupo, através do Ricardo num brinde sentido ao céu fez questão de dedicar esta pega.

Por contingências de algum problema surgido nos curros, o toiro David Ribeiro Telles inutilizou-se e teve de ser substituído pelo Canas Vigouroux, com de 605 Kg acusados na balança. Para um toiro grande, saltou um grande forcado, o Ricardo Patusco. O toiro na primeira tentativa não permitiu as quase impercetíveis falhas do Patusco que acabou derrotado por baixo do toiro, felizmente sem grandes mazelas exteriores, talvez mais o orgulho ferido. A segunda tentativa, decorreu sem mácula. Mandou, recuou o necessário, “trancou-se” com a gana habitual, aguentou um derrote após a reunião mas onde nunca esteve em causa a eficácia do momento e teve uma extraordinária ajuda do restante grupo, com o Tiago Salsa a dar o mote, que fechou em cacho e onde a nenhum forcado faltou toiro para pôr as mãos. Grande ovação e merecida volta no final desta excelente pega.

O pega ao último toiro do grupo de Vila Franca, no que toca ao cara, foi dada ao Pedro Castelo. Um Vale do Sorraia bastante gravito que acabou por ser o toiro que melhor cumpriu em toda a corrida apenas pecando por alguma escassez de força em relação à maioria aos restantes toiros saídos a praça. Um forcado habituado a cenários mais complicados também merece por vezes ser premiado com um toiro teoricamente mais acessível, mas deixando a confiança para ser largada apenas ao jantar, claro está. Foi com toda a seriedade e a competência habitual que fez tudo como mandam “os livros” e aguentando inclusivamente alguma “briga” do toiro que apesar da boa ajuda inicial do Emanuel Matos, entrou pelo grupo, com o cara bem fechado e de onde acabou por sair com a companhia de oportunas ajudas do Petróleo e do Bernardo, um por cada uma das imponentes hastes do toiro, fechando o grupo por completo logo de seguida.

Como amante das grandes pegas, não posso deixar de realçar o extraordinário pegão ao sobrero da ganadaria Palha pelo grupo de Alcochete. Grande pega do cara Pedro Viegas, com uma alma enorme e um grupo de guerreiros a tentar ajudar e a conseguir, obviamente, num toiro muito duro e complicado pelo modo como se empregou na pega. Acabou por ser o melhor final para uma tarde de grandes pegas.

Noite fora, houve mais umas quantas pegas (fáceis, claro) num jantar que decorreu num ambiente agradável e bem frequentado.

Paulo Paulino “Bacalhau”

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