Paulo Paulino “Bacalhau”


A história que trago hoje não é de uma pega especial nem de uma exibição individual que me tenha “enchido as medidas”, trata-se sim de um grande desafio no qual tive a honra e o prazer de colaborar para o seu sucesso numa das páginas mais brilhantes escrita na arena da Palha Blanco pelo Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira. Pode-se dizer que esta história teve início na terça-feira noturna 4 de outubro de 1994, teve seguimento no sábado seguinte, dia 8 do mesmo mês e culminou a 2 de abril de 1995, dia em que efetivamente foi lidado e pegado um imponente e histórico curro de toiros Infante da Câmara.

Os toiros Infante da Câmara sempre foram exigentes para os forcados, fossem eles forcados da cara ou ajudas, com um “temperamento” inigualável e nem precisavam ser “volumosos” para colocar em sentido qualquer grupo que os enfrentasse, dando pegas bastante espetaculares ou grandes “sovas”, criando por vezes verdadeiras “batalhas” entre toiro e forcados por raramente perdoarem quaisquer falhas a quem os enfrentasse. A célebre corrida do Centenário do Campo Pequeno, tinha sido um dos exemplos anteriores a vincar esse padrão, numa noite de pegas épicas e com 2 grandes grupos de forcados a terem de se empregar para consumar as 7 pegas da noite, todas niveladas por grande superação no que toca aos forcados que os enfrentaram. Para se pegar um curro completo desta ganadaria, penso que os dedos de uma mão sobravam para contar os grupos com condições para tal (com a dignidade exigível) e este curro anunciado para essa terça-feira noturna de 1994, tinha sido cuidadosamente guardado para sair com uma “presença” e seriedade incomparável a qualquer corrida dessa temporada.

Após tanta expetativa, a tarde e noite desse 4 de outubro saiu bastante chuvosa, a praça estava “alagada” e a corrida acabou por ser adiada para o fim de semana seguinte, mesmo com a presença massiva de público garantida, tal era a expetativa criada para este momento.

No sábado seguinte, novo tempo chuvoso, ainda mais expetativa, a praça tão cheia de publico como a arena de água e após várias tentativas por parte da empresa de, mesmo nestas condições dar a corrida, os cavaleiros não aceitaram à última da hora, lidar com uma arena totalmente impraticável para se lidarem toiros, muito mais este curro específico. Pessoalmente acho que teria sido um verdadeiro “massacre” para forcados, cavalos, cavaleiros e até para os toiros, ter-se lidado este curro nesta noite. O resultado foi a corrida novamente adiada para a abertura da temporada seguinte na Palha Blanco.

Chegou o dia 2 de abril de 1995, o tempo permitia, a praça estava com a moldura das grandes tardes da Palha Blanco. A expetativa deste desafio com os toiros a adicionarem mais uma “erva” à idade em relação ao inicialmente anunciado acrescentavam mais uma previsível dificuldade. Em cada canto da bancada se viam imensos forcados de outros grupos, ninguém queria perder este momento quase único, mas também daí veio apoio. Recordo-me de uma faixa a dar força ao Grupo de Vila Franca neste desafio, trazida pelos forcados do Grupo de Santarém presentes essa tarde na bancada, numa atitude que define os grandes Grupos.

Depois disso vieram os “momentos” … o Grupo de Vila Franca venceu todos os seus desafios desta tarde épica com 5 pegas de cara e 1 de cernelha, demonstrando sempre muita concentração, maturidade e uma vontade de triunfar que “encheu” a arena por parte de forcados da cara e de ajudas. Nessa tarde dei 5 segundas ajudas, mas como referi inicialmente, o principal foi ter tido a honra de colabora neste importante momento com os meus amigos e o culminar foi uma triunfal volta à arena, para todo o Grupo, com o publico de pé a aplaudir de modo apoteótico esta brilhante atuação do Grupo de Vila Franca. Para a história e sem obedecer à sequência correta, os forcados da cara nessa tarde foram o Jorge Faria (1ª), Mário Rui (1ª), Vasco Dotti (1ª), Carlos Teles (2ª) e Nuno Nery (3ª), sendo a cernelha efetuada pelo Diogo Dotti e pelo António Correia (1ª) que rabejou os 6 toiros dessa tarde. Eventualmente posso estar a errar nalguma tentativa de algum dos forcados da cara mas não é relevante, tudo o que ocorreu nessa tarde teve todo o sentimento do que era “ser forcado” do Grupo da “Vila” na cabeça de cada elemento que esteve em praça a defender a nossa jaqueta.”

Paulo Paulino “Bacalhau”

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