
Foi na Figueira da Foz, no 4 de agosto de 2018 que o Grupo de Vila Franca teve mais uma atuação da atual temporada.
A corrida começou com alguma antecedência, quando alguns elementos já se espalhavam entre a praia, as movimentadas ruas desta bela praia e o apartamento da Paula Villaverde, a Santa que ano após ano atura, alimenta e alberga os meninos do seu Grupo durante alguns dias e que nos faz sentir como se estivéssemos na nossa casa, onde nada nos falta.
Na noite desse sábado, rua acima, notou-se um grande contraste entre a zona do bares e do Casino, onde muitas pessoas respondiam à passagem dos forcados com olhares de admiração e respeito e a chegada ao Coliseu Figueirense, onde meia de dúzia de energúmenos barulhentos, não pela quantidade mas pela potência das colunas utilizadas, resolveram incomodar e desrespeitar as pessoas normais com uma “berraria” vazia de sentido e onde a tolerância pelos gostos pessoais e liberdade cultural são conteúdos ausentes. Triste democracia a nossa que permite que estes nazis dos tempos modernos ainda consigam ter voz ativa, pasme-se, a 20 metros de distância da porta de entrada de um espetáculo legítimo, pago e onde só vai quem quer porque ninguém é obrigado.
Atrasos mentais por convicção à parte, o que interessava era honrar a jaqueta do Grupo de Vila Franca, respeitando os toiros e o público pagante e caracteristicamente entusiasta da Figueira da Foz.

O curro de Manuel Veiga saiu muito homogéneo de presença, toiros bonitos e com cara, génio sempre presente e a exigir concentração e competência não perdoando as mínimas desatenções ou falhas técnicas.


O toiro que abriu praça foi o mais sério nesse aspeto, 520 Kg de manso encastado, com requintes de reservado a partir do meio da lide e que indiciava uma entrada bruta na reunião e a pedir Grupo nas ajudas. O Ricardo Castelo escalou para forcado da cara o João Luz, forcado que se estreava a pegar pelo Grupo de Vila Franca, pese a sua já vasta experiência nas arenas. Na tentativa inicial, esteve bem à frente do toiro, recuou um pouco menos que o exigível, recebeu bem a poderosa entrada do astado, mas sem se fechar totalmente, pelo que acabou vencido pela violência com que o toiro o despejou à entrada do Grupo, numa viagem que vinha a cheirar o piso da arena. Na 2ª tentativa, esteve novamente bem na cara do toiro, recebeu nova investida violenta, mas já completamente mandada pelo forcado da cara e desta vez fechou-se bem com o Grupo a corresponder ao exigido e a fechar em bloco já perto das tábuas, numa viagem áspera com o toiro sempre a “guerrear” com o Grupo. No final, merecida e aplaudida volta para o João numa pega que nunca foi fácil, mas foi resolvida com grande competência em todos os aspetos.


O terceiro toiro da corrida anunciado com 455 Kg, teve um comportamento nobre durante a lide e chegou à pega com as condições ideais para ser dada uma oportunidade a um forcado menos experiente, mas a saber o que fazia. Neste toiro, o mando para a investida era um ponto crucial e o jovem Guilherme Dotti ia compenetrado desse facto. Entre o saber e o conseguir, faltou uma ligeira ligação. Na 1ª tentativa o Guilherme consentiu a prioridade que o toiro adotou, recuou cedo demais e quando precisou já faltou toiro que com uma “mangada” lateral já a fugir ao Grupo perto das tábuas, desta vez menos lesto que o exigível a responder, desfeiteou o jovem forcado. Com a fibra que se lhe reconhece, percebeu o que falhou e desta vez já foi eficaz no mando ao toiro, no recuar apenas o essencial e no fechar-se com convicção e com uma garra que lhe está nos genes, respondendo mais uma vez o Grupo com grande qualidade a culminar esta boa pega.


O quinto toiro da noite foi um portento de comportamento, nobre, a encher a praça de qualidade, sério, mas a transbordar “honestidade”. Para este toiro, o cabo escalou um forcado de técnica apurada para responder como forcado da cara, o Pedro Silva. Após um merecidíssimo brinde à Paula Villaverde, assistimos todos a uma grande pega plena de perfeição do 1º ao ultimo segundo. O Pedro citou com classe, deixou o toiro fixá-lo bem, carregou a mandar, fez a pausa necessária para dar o terreno ideal para recuar, “deslizou” de tal maneira no recuar que até parecia que o piso estava em excelentes condições, dobrou-se e recebeu no momento certo para se fechar com perfeição enchendo a cara ao toiro. A viagem foi veloz e a aguentar as “mangadas” do oponente que entrou áspero ao Grupo e este respondeu de modo extraordinário ao desafio com as peças a encaixarem-se nos sítios e momentos ideias não dando hipótese de saída ao grande e digno adversário que teve pela frente e que continuou a debater-se mesmo com o Grupo a envolvê-lo completamente, como um verdadeiro guerreiro. Quando as coisas são feitas nestes termos, até parece fácil.
O jantar e a “noite” após a corrida mantiveram o nível exibicional anteriormente obtido e só bastante “cedo” se percebeu que estava a prestes a chegar a hora de almoço, para depois atacar as ondas, calculo eu…
Paulo Paulino “Bacalhau”