Tradicional Corrida de 3ª Feira Nocturna


A corrida vista na perspectiva do Cabo

Este dia sempre especial não começou nada bem, embora tenha sempre uns dias de férias durante a semana da Feira, tive de ir até ao meu local de trabalho resolver um assunto que não podia ficar pendente, fiz cerca de 30 Km debaixo de uma chuva intensa e naturalmente com o stress de quem tem um compromisso/desafio sério marcado para as 22.00 horas na arena da Centenária Praça de Toiros “Palha Blanco”.

A incerteza quanto ao que se iria passar, não ajudou em nada a manter toda a tranquilidade que me tem acompanhado fruto de uma experiência acumulada ao longo de mais de 20 anos nesta vida dos toiros.

Não foi surpresa, mas logo no sorteio percebi a seriedade da corrida que estava nos curros, era um lote de toiros que iria exigir muito do Grupo e que não se poderiam cometer erros nesta noite, caso contrário teríamos, certamente muitos problemas.

Para dar continuidade a este dia “difícil”, também não fiquei satisfeito no que diz respeito à ordem de saída dos toiros, principalmente com o PARIDO DE RESINA (Ex. Pablo Romero) a abrir e o MIURA a ficar para último.

Com algumas baixas o Grupo reuniu-se na nossa Tertúlia para dar início ao fardamento, e eis que surge mais uma notícia “complicada”, o Pai Petróleo tinha sido internado de urgência com um princípio de enfarte, e o João Pedro (petróleo filho) também já com alguns anos nestas andanças estava sem saber o que fazer, por um lado queria ajudar o seu Grupo (tendo perfeita noção das limitações nos ajudas), mas também queria estar junto do Pai, nesta hora difícil e de alguma incerteza.

Com tanta contrariedade senti que estava na hora de reagir, após uma pequena palestra a transmitir muita confiança em todos os que ali estavam, pedi para se fardarem os que estavam em condições, num total de 22 elementos (Por tradição, nesta corrida fardam-se sempre todos os forcados que fizeram a temporada e que se encontrem em condições).

O Grupo apresentou-se na “Palha Blanco” com todos os seus actuais elementos, excepto os que continuam aleijados, que são os nossos companheiros e amigos – João Pedro “Surf”, Bruno Tavares, André Matos e Pedro Henriques, a quem tivemos o prazer de brindar uma das pegas da noite.

O João Pedro “Petróleo” depois de se inteirar correctamente da situação estável do seu Pai, juntou-se a nós ainda decorriam as cortesias e foi de uma grande utilidade toda a corrida, ajudou 5 toiros, sempre a dar segundas ajudas e de forma decisiva.

1º Toiro da Ganadaria de Partido de Resina, com o N.º 8 de 4 anos e 530 Kg

Toiro sempre muito reservado, que aparentava algum poder, de córnea “acabanada” e embora escondido pelas embolas, o corno direito era mais curto. O toiro pedia um forcado que se agarra-se bem e rapidamente de preferência à barbela, optei pelo Paulo Conceição que não esteve bem à 1ª tentativa, deveria ter recuado muito mais com o toiro e depois teve dificuldade acrescidas e só à terceira tentativa já com o Grupo em cima, conseguir ficar e consumar uma pega dura. Embora tenha dado volta, penso que não o deveria ter feito, uma ida aos médios teria sido o adequado para a sua prestação.

As coisas continuavam a não correr de feição, mas felizmente tudo mudaria a partir deste toiro.

2º Toiro da Ganadaria de CONDE DE LA CORTE, com o N.º 91 de 5 anos e 500 Kg

Foi um toiro cumpridor que teve uma lide agradável feita pelo cavaleiro Luís Rouxinol, e que ao contrário do 1º da corrida, não demonstrava ter grande poder, além de um bom par de cornos. Penso que servia para qualquer Forcado, e havia alguns bens jovens que podiam ter-se estreado a pegar uma Terça-feira nocturna, mas se queria pegar um toiro, não podia deixar passar este que parecia ter sido encomendado.

Pega fácil bem rematada pelo Grupo.

O sorteio destinou como 3º da ordem, o toiro da ganadaria Vale Sorraia, mas como este se desembolou, avançou o que estava destinado a sair em último para o Cavaleiro Vítor Ribeiro.

3º Toiro da Ganadaria de MIURA, com o N.º 91 de 4 anos e 580 Kg

Foi um toiro com pouca qualidade que se parou no centro da arena e criou muitas dificuldades ao cavaleiro e que poderia complicar na pega. Para a cara o experiente forcado Pedro Castelo, que muito determinado efectua uma 1ª tentativa onde tentou adiantar-se para evitar a manobra de defesa do toiro que levantava logo a cara após a reunião, mas não se conseguiu fechar pelo que teve de realizar uma 2ª tentativa onde já conseguiu fechar-se à córnea para não mais sair. Muito bem o Grupo que foi muito rápido a fechar, não permitindo qualquer má ideia ao toiro que acabou por se entregar de forma mais fácil do que era esperado.

4º Toiro da Ganadaria de MURTEIRA GRAVE, com o N.º 14 de 4 anos e 520 Kg

Este toiro esteve sempre com a querença nas tábuas, mas tinha uma córnea agradável e embora tivesse dificultado muito a vida ao cavaleiro António Ribeiro Telles, que esteve impecável no esforço e na forma como quis lidar, pedia apenas um forcado que lhe soubesse pisar os terrenos. Saltou a arena o Forcado Ricardo Patusco que esteve muito bem de principio ao fim, sabendo alegrar no momento certo, evitando estar a mexer mais no toiro para o mudar de sitio ou até tirar um pouco das tábuas. Boa pega com o Grupo a ajudar e com o 1º ajuda Emanuel Matos a ser chamado à arena para dar volta com o cavaleiro e o forcado da cara.

5º Toiro da Ganadaria de PINTO BARREIROS, com o N.º 77 de 4 anos e 540 Kg

Foi um toiro bem apresentado de córnea aberta e larga, que tanto servia para um forcado cornaleiro, como para um barbeleiro. Foi muito bem lidado pelo Cavaleiro Luís Rouxinol e chegou à pega ainda a demonstrar força para criar problemas. Felizmente o Grupo embora limitado nas soluções de forcados com experiência para ajudar os toiros, tinha diversas opções para o Cabo escolher entre os Forcados da cara, sendo exemplos mais concretos os casos de Ricardo Castelo, Bruno Casquinha, Rui Graça, Nuno Comprido “Fura”, Márcio Francisco e Diogo Pereira “Russo”. Escolhi este último porque tem sido um forcado muito eficiente que se saca e dobra muito bem na reunião, o que me parecia importante neste toiro. Pareceu que a reunião não foi perfeita mais por culpa do toiro que fez um estranho, mas o forcado fechou-se rapidamente, o toiro ainda desviou-se para a porta dos cavalos a sacudir com força, mas o Grupo foi rápido a fechar e a ajudar uma concretizar uma boa pega.

O Emanuel Matos, que já tinha todas as 1ª ajudas, ficou inanimado na arena fruto de uma forte pancada com a cabeça no chão da arena em virtude de ter sido projectado quando tentava ajudar o forcado da cara. Penso que se atrasou ligeiramente na entrada pelo que quando o toiro deu um derrote, levou com rabo do forcado e já não se conseguiu fechar.

6º Toiro da Ganadaria de VALE SORRAIA, com o N.º 31 de 4 anos e 585 Kg

Se esta corrida tivesse sido um concurso de ganadarias este belo exemplar criado pelo Ganadeiro Exmo. Sr. David Ribeiro Telles teria levado quer o prémio de apresentação, quer o de bravura. Com uma boa actuação do Cavaleiro Vítor Ribeiro o toiro estava imponente para dar uma grande pega. Foi escolhido o Márcio Francisco que tem vindo a surpreender tudo e todos, e que após a memorável noite de quinta-feira no Campo pequeno, todo o público presente na praça quase que “exigia” ver este forcado.

Com um brinde sentido a Mestre David Ribeiro Telles, posiciona-se no centro da arena, começa a citar e dá alguns passos, mas penso que se chegou de mais ao toiro. Este com uma arrancada forte dá um violento derrote no forcado que não conseguiu aguentar, tinha que se sacar mais depressa ou então estar um pouco mais atrás, para após a reunião colocar o toiro dentro do Grupo.

Na 2ª tentativa corrigiu este pormenor, deu um pouco mais terreno ao toiro e já conseguiu aguentar o fortíssimo 1º derrote, após o qual, e embora o toiro tenha desviado, tudo o Grupo ajudou e fechou mais uma grande pega deste jovem forcado. Está de parabéns, já que impressiona toda esta aparente maturidade, grande força de vontade e capacidade técnica para pegar toiros, num jovem que está na sua 2ª época como forcado amador.

Para mais tarde fica uma conversa séria onde terei o cuidado de alertar o Márcio para os perigos que toda esta popularidade pode acarretar caso não mantenha a cabeça no lugar.

“A VAIDADE É O PIOR INIMIGO DO FORCADO”

Esta é uma frase que comecei a ouvir desde aqui estou, e que por estar 100% de acordo com o seu significado, a tenho transmitido aos elementos do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira.

Terminamos a corrida com alguns forcados tristes por não terem pegado, mas também têm de reconhecer que estão ali para servir o Grupo, normalmente nesta corrida por ser a mais importante devem pegar aqueles que estão em melhor forma, reconheço que acabou por não ser o caso, porque existiram diversos factores que me levaram a optar noutro sentido, sempre com o intuito do Grupo conseguir a melhor actuação possível.

Com o desenrolar da corrida as coisas podiam ter tido outro rumo, como exemplo refiro o caso do Forcado Diogo Pereira “Russo” que foi escolhido para a cara do 5º toiro, caso o toiro MIURA não tivesse saído em 3º lugar, mas sim em último, certamente que não o teria utilizado e teria ficado como opção para o 6º toiro.

A época vai terminar com o Festival dia 26 de Outubro em Vila Franca de Xira, de Homenagem ao malogrado campino e picador José Paulo Nunes, onde vamos pegar mais dois toiros para então no fim-de-semana seguinte rumarmos ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima em mais uma já tradicional digressão ciclista.

Vasco Dotti

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