Tradição e continuidade


Corrida de abertura de temporada no Sítio da Nazaré, dois terços de casa e o caraterístico ambiente interventivo e alegre com que os Nazarenos vivem a Festa dos Toiros. A abrilhantar esta noite, uma transmissão “quase direta” televisionada numa corrida com alguns condimentos aliciantes, nomeadamente no cartel e nos toiros, propícios a uma jornada que se antevia positiva no que concerne à imagem da Tauromaquia.

Não foi uma “daquelas” noites, foi apenas uma noite agradável de toiros que cumpriram na generalidade, excluindo os 2 últimos, cada qual pelos seus motivos, o 5º toiro condicionado fisicamente apesar de ser o de trapio mais condizente e o último toiro a destoar relativamente à nobreza dos restantes, um manso a perder de vista.

O Grupo de Vila Franca não teve uma noite extremamente trabalhosa, esteve concentrado, não facilitou e no geral considero que se tratou de uma exibição de nota acima da média, tanto para os forcados da cara como para os ajudas. Um facto curioso e bastante relevante no resultado final da atuação nesta corrida são as forte ligação a questões de “Tradição” e de “Continuidade”: nesta noite, todos os 3 elementos que pegaram de caras são filhos de antigos forcados do Grupo de Vila Franca.

No primeiro (muito nobre) toiro que arrancava de qualquer sítio, sempre à procura de dominar a arena e que apenas ficou a dever um pouco na apresentação, fator secundário para tão bom comportamento, o forcado da cara eleito foi o Francisco Faria, regressado da lesão ocorrida na última atuação do Grupo no Campo Pequeno. Quando um forcado regressa de uma lesão com a gravidade da que apoquentou o Francisco é natural esperar algum eventual comportamento mais defensivo, mas como em tudo, há forcados e Forcados. O Francisco esteve extraordinário desde que saltou à praça, perfeito no cite, alegrou bem a investida pronta do toiro, suportou uma entrada com o piton esquerdo do toiro na zona do ventre e trancou-se melhor na córnea, numa viagem que entrou para dentro de um coeso grupo de ajudas que não permitiram quaisquer veleidades ao toiro e assim se consumou a primeira boa pega da noite.

O terceiro toiro da noite foi também nobre de comportamento e a cumprir bem em toda a lide. O forcado da cara para este toiro foi o jovem Guilherme Dotti, um forcado em nítida ascensão nesta temporada e a merecer em cada tarde e noite as oportunidades que lhe vão sendo dadas. Também desta vez teve a maturidade e competência necessárias para efetuar uma pega de excelente nota. Cite sereno e concentrado, carregou o toiro e foi mandar já em zona de algum compromisso, recuou a aguentar o ligeiro ensarilhar do toiro sem se descompor e fechou-se eficazmente, em mais uma viagem que entrou por dentro de um grupo muito coeso e eficaz a ajudar.

Para finalizar a atuação do Grupo de Vila Franca, o cabo Vasco Pereira chamou a si a responsabilidade de pegar o quinto toiro da noite, “a querer”, mas algo condicionado dos membros, o que lhe provocava algumas investidas descompostas e com um trapio acima da média nesta corrida. O Vasco na primeira tentativa foi traído por uma entrada brusca de baixo para cima, por parte do toiro, algo descomposta num momento crucial da pega, a dificultar uma reunião que praticamente não existiu. Na segunda tentativa, retificou o temple, recebeu bem e fechou-se com grande eficácia, atitude seguida pelo restante grupo que esteve impecável a ajudar a culminar esta atuação positiva na noite da Nazaré.

Paulo Paulino “Bacalhau”

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