Debaixo de uma agradável temperatura e com grande ambiente acima dos três quartos de casa preenchidos, a tradicional corrida mista de domingo de Colete Encarnado foi um espetáculo onde sobressaiu uma grande vertente emocional perfeitamente identificada com uma das características mais inerentes à essência e intimismo da tauromaquia, independentemente do resultado artístico ter merecido um destaque secundário (algo que apenas surgiu a rasgos), tratou-se de um permanente respeito pelo toiro e pela seriedade que este curro de São Torcato transmitiu na arena e ressoou pela bancada.
A Palha Blanco viveu uma daquelas tardes em que foi latente uma inerente atitude mais toureira que artística como sistema adotado para vencer as dificuldades enfrentadas, ultrapassando os limites do desplante, do adorno e da busca dos momentos de virtuosismo mais refinado. Os São Torcato não eram “montanhas de carne”, eram tendencialmente mansos, com génio e muito incómodos, mas eram sobretudo… Toiros!
O Grupo de Vila Franca não teve uma tarde descansada, muito pelo contrário, mas esteve enorme face aos problemas que os São Torcato criaram. Sentiu-se nesta tarde o que é um Grupo de Forcados a honrar os seus pergaminhos e prestígio com uma atuação de grande exigência, conjugando competência com inteligência e solidariedade.
David Moreira abriu praça com uma pega à terceira tentativa. O toiro vinha pronto, entrava de modo seco sem humilhar e derrotava desde a reunião, não perdoando na tentativa inicial o recuar um pouco mais que o necessário do forcado da cara e na segunda tentativa alguma imperfeição a receber no momento da reunião. Na terceira tentativa o “Canário” encurtou terrenos e esteve superior a receber e a fechar-se com o grupo muito coeso a responder.
No segundo toiro, o forcado da cara foi Pedro Silva que pegou à terceira tentativa. Também vinha pronto o toiro e apesar do Pedro ter estado bem nas tentativas iniciais, o toiro era bastante áspero após a reunião e se na primeira apenas teve a necessidade de se conseguir livrar do forcado da cara num segundo derrote de cima para baixo, na segunda tentativa parou-se a desbaratar o Pedro (que aguentou até ao impossível) e todo o grupo que foi respondendo com empenho e valentia, mas que não foram suficientes para derrotar o oponente. Na terceira tentativa, a competência do forcado da cara e o querer de todo o grupo conseguiram culminar com sucesso uma pega de grande atitude a um toiro difícil.
O terceiro toiro foi pegado pelo consagrado Rui Godinho de modo superior à primeira tentativa numa pega a um toiro que também veio pronto e veloz, mas que quando se apercebeu, estava envolto na zona das tábuas por um grupo perfeitamente coeso e a toldar-lhe qualquer hipótese de reação. Neste toiro, a atuação do rabejador Carlos Silva empolgou o público e acabou por ser justamente aclamado para dar merecida volta com o Rui Godinho e António Telles.
A encerrar a atuação desta tarde, o forcado da cara foi Guilherme Dotti que pegou à terceira tentativa. Enfrentou mais um toiro exigente e se na primeira tentativa esteve corretíssimo em todos os tempos, os derrotes do toiro a entrar grupo dentro descompunham e apesar do toiro ter sido parado, o forcado estava fora da cara, tendo-se mantido o grupo na arena para uma nova tentativa. Desta vez, uma entrada forte sem humilhar despachou de imediato o forcado da cara e primeiro ajuda. Na terceira tentativa, o Guilherme encurtou terrenos e veio bem fechado grupo dentro com o toiro a atropelar o esforço solidário dos ajudas até que o terceiro ajuda Diogo Grilo se “trancou” na viagem com o Guilherme, motivo suficiente para que o resto do grupo conseguisse recuperar e se culminasse esta empolgante pega. No final, forcado da cara e ajuda deram volta bastante aclamada.
Paulo Paulino “Bacalhau”