Pegar no HOJE


A escolha de uma opção anula a contrária. Desculpem a evidência. 

O Cabo dos Forcados tem de lidar em cada corrida com este paradoxo.

Chamamos escolha a algo que realmente não é. Não há escolha porque se o resultado for bom a opção é a perfeita, mas… e se não for? 

Pois é: refazer, nervos, frustração, qualidades também elas do crescimento e do sucesso. 

O Passado, o Presente e o Futuro no ruedo anulam-se. O futuro deixa de existir e o passado nem se aproxima para ajudar, só fica mesmo o presente: o HOJE. 

Apôs nove anos sem pegar em Évora, já não ia ser com o Passado. Chegou o Grupo à corrida, carregado de Presente. Os forcados que foram à cara na noite do 30 de Setembro, são o hoje afortunado de Vila Franca: Francisco Faria, Vasco Pereira e Andre Câncio. Presente com ganas. Nessa noite havia uma oportunidade para serem lançados ao Futuro e contribuir deste modo para honrar o Passado. O Cabo, Ricardo Castelo pensou e escolheu no intuito de ser essa escolha a melhor opção (se for outra a ideia, espero me desculpem).

A autocritica é fácil de fazer quando TUDO e TOIRO correm bem. De lá é que nasce a capacidade que temos de melhorar as situações, de analisar quando estas ficam bem resolvidas e também celebrá-las, como é merecido e devido.

O grupo de Forcados de Vila Franca tem tendência a medir-se consigo próprio, o que é uma atitude magnifica porque sempre é mais nobre querer ser melhor que o próprio do que melhor que os outros, ou dito de outra maneira, que a qualidade e a excelência dependem só de nós. Não pretende apenas estar melhor comparativamente aos outros Grupos.

E por isso, a mandato único do Cabo, lá foi à cara dos toiros o valoroso HOJE:

Francisco Faria

O toiro do Francisco, o primeiro da noite para Grupo de Vila Franca, arrancou a andar (como se estivesse nas esperas da Feira)… a medir… com relutância. Metáfora que deu para mostrar como ia a ser a noite na praça. Ficámos com a sensação de ter chegado a Évora a pé…

Mas não com mau pé, porque o Francisco resolveu, e bem, mas claro a pega não permitiu brilho nenhum, embora executada à primeira tentativa. A situação, que pareceu mesmo culpa do toiro, deixou-nos no atoleiro para o resto da noite.

Vasco Pereira

O toiro São Torcato (confesso que gostei em geral dos toiros, algum tinham menos estética mas aprecei a casta que levavam dentro), logo na primeira investida entrou no forcado ajoelhado e quando cheirou as jaquetas de ramagens, levantou-se do chão a derrotar como para agarrar uma traça no ar, desfeita que apanhou muito desprevenidos os corpos dos ajudas e o corpo do Vasco mas não a sua alma, que tem muita, e sabe como um eleito mantê-la calma.

E voltou à cara com arte. Mais duas vezes. É preciso também falhar a perfeição com que o Vasco nos tem acostumado.

Algo nessa noite nos dizia que estava difícil improvisar a glória.

André Câncio

A calma da alma. Sempre necessária para estar na cara do toiro. O corpo pode doer, mas a alma, nunca. E lá foi o André a quem não faltou a ATITUDE, já que outra coisa é a APTIDÃO de quem vai a cara do toiro em circunstâncias de “primeira vez”.

Qualquer um passa por uma primeira vez e alguns até passam muitas vezes pela primeira vez. Mas o Andre reagiu bem perante o toiro, mais três vezes. Levantou-se e voltou à cara, não olhando para ninguém a fim de receber qualquer lição. Porque quando se esta lá dentro, não há explicações e o toiro foi pegado com essa boa atitude, à quarta.

É o HOJE a debruça-se perante nós, com o mesmo espírito.

Sorte!

Maria José García

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