O que é ser Forcado?


Ser Forcado é algo que se distancia muito acima da “simplicidade” do óbvio. Sente-se sem se conseguir explicar. É sobretudo viver, para além de uma mera travessia temporal e onde se cria uma omnipresente admiração e respeito ao toiro, à história do seu Grupo, aos aficionados e aos amigos. É estar centrado no subconsciente de um sonho em constante desafio com a realidade numa improvável mistura de ilusão com lucidez, qual caminho traçado na ténue fronteira de um contraste que pode ser tão suave e doce como brutal e amargo. Ser Forcado é uma passagem na vida mas que pode durar uma vida.

Na “Terça Feira Noturna” da feira de Vila Franca, neste 4 de Outubro, estiveram presentes 25 Forcados do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira fardados na Palha Blanco que justificaram na arena porque são um Grupo de Forcados. Com eles, da primeira à última pega, esteve uma praça praticamente cheia de um público com uma predominância quase total de aficionados.

Ricardo Castelo

Ele é o Cabo do Grupo como é sabido, mas não se é Cabo de um Grupo destes por acaso. É-se Cabo porque se tem “estaleca” para o ser. É-se Cabo porque, entre um grande número de qualidades importantes, também se sabe e se sente como e quando dar o exemplo, como nesta noite, abrindo praça na corrida de maior responsabilidade da época, num Palha extremamente sério, daqueles que não dão segundas oportunidades. O Ricardo avançou para este toiro para mostrar ao que estava. E mostrou… de que maneira! E o Grupo respondeu igual, como que dizendo: “tu indicas o caminho mas ficas a saber que vamos todos contigo”. Que grande pega “à Grupo de Vila Franca” que a Palha Blanco viveu naquela 1ª pega da noite. Um verdadeiro compêndio de como se pega um verdadeiro toiro, sério, ao nível dos 8 eleitos do Grupo que o enfrentou.

Emanuel Matos “Manu”

Tudo nesta vida tem um início e tudo tem um fim, como é hábito dizer-se. O “Manu” foi intérprete da cara no 2º Palha da noite e despediu-se do ativo. Um verdadeiro Forcado não tem um fim, apenas interrompe a atividade. O “Manu” atingiu o nível dos eleitos, aqueles que serão sempre recordados, tal a qualidade e valentia que mostrou sempre ao longo de toda a carreira no ativo. O Emanuel Matos “Manu” é uma figura importante da história do Grupo de Vila Franca e desta geração de Forcados Portugueses. Quem priva com o Emanuel fora da arena conhece a sua maneira de estar, de uma simplicidade notável, integro, leal, sempre disponível, alegre e simpático. Dentro da praça, juntam-se todas estas qualidades com uma “garra” e uma perfeição inigualáveis. Foi um privilégio ter desfrutado com as centenas de grandes atuações deste enorme Forcado ao longo de 13 épocas no ativo.

Francisco Faria

Há Forcados que possuem algo que no meio de iguais os distingue. O Francisco Faria é desse tipo de Forcados e o que o distingue é o ser predestinado para o que faz. Tem intuição, humildade e utiliza a inteligência, o que faz com que saiba aprender a entender o toiro antes de saltar à praça, com o que vê e com o que ouve de quem lhe pode dar ensinamentos. Teve um oponente muito complicado nesta noite. Um Palha manso e com poder, bruto na reunião, tardo a investir logo após aquela primeira entrada “a partir” da 1ª tentativa. Teve a capacidade de análise para saber os terrenos até onde podia ir e aliado a um Grupo de ajudas que esteve ao nível do cara, sacou mais uma pega extraordinária na 2ª tentativa.

Vasco Pereira

O “Vasquinho” foi um dos heróis desta noite. Desde a primeira corrida da época até ao culminar da mesma, nesta Terça Feira Noturna, o Vasco distribuiu qualidade e classe pelas praças que pisou. Teve toiros muito ingratos, nada fáceis e este é capaz de ter sido o mais difícil de todos. Um Canas Vigouroux jabonero que foi sempre “pastelento” e pouco codicioso em toda a lide mas que ganhou “asas” no momento da pega. O Vasco, por trás dos seus 18 anos de idade esconde recursos de Forcado adulto feito e aquela 2ª tentativa, imponente, merecia dar-lhe a pega da época. Foi à 4ª, dura e difícil, mas também ela “à Grupo de Vila Franca”, com a mesma dignidade e sentimento de dever cumprido de uma pega à 1ª. Parabéns Vasco Pereira, foste mais uma vez enorme nesta noite!

Rui Godinho

O quinto toiro da noite, foi um Canas Vigouroux sério, muito sério. Não correu, não investiu, limitou-se a pouco mais do que andar num “chouto” ocasional praça fora, sempre a transbordar “sentido”. Era um daqueles toiros que os forcados comuns definitivamente não apreciam e preferem não ser os escolhidos. Mas o Rui Godinho é um verdadeiro Forcado, dos consagrados, daqueles que sabe, até de trás para a frente, como vencer desafios e este era um verdadeiro desafio. Chamaria a este exemplar a “encomenda” da noite na linguagem do meio. Com a seriedade que se impunha e que abunda nele, o Rui Godinho e o Grupo que o ajudou tratou de pegar à 1ª tentativa este toiro que quando se apercebeu do que lhe estava a acontecer, já não conseguiu livrar-se do destino que o Rui lhe traçou. Uma limpeza de pega, com muita classe.

David Moreira “Canário”

Para o ultimo Canas Vigouroux da noite, o “Canário” era a escolha lógica. Pela bela época que fez, pelas exibições em ascendente que teve ao longo dos últimos meses e pela confiança que transmitia cada vez que entrava em praça, o “Canário” merecia a sua pega na Terça Feira Noturna. Foi com todos estes predicados que enfrentou o toiro mais pesado da noite e após se sacar bem, o recebeu numa entrada dura que se transformou rapidamente num “desbaratar” de forcados nas tábuas. O toiro tinha muito poder e conseguiu derrotar o Grupo nesta tentativa. Pior que isso, foi mesmo o “Canário” lesionar-se no joelho e ter de ser retirado em braços da praça. Final de época não merecido, inglório, mas que certamente ele saberá superar, com a moral que se lhe reconhece.

Marco Ventura

Para dobrar o David, o Cabo designou o Marco Ventura. Trata-se de um forcado que se começou a fardar esta época no Grupo de Vila Franca e que pacientemente e com bastante humildade, soube sempre aguardar a sua hora de saltar um dia à praça e estrear-se a pegar pelo Grupo. Talvez não tenha sido esta a estreia idealizada, mas o destino assim o quis. Teve uma primeira vez bastante positiva. Não se precipitou, fez as coisas com calma, trancou-se numa barbela poderosa e mesmo com os ajudas a darem alguns bons contributos, foi com muita moral que aguentou os derrotes poderosos do toiro até o Grupo conseguir fechar com sucesso esta complicada pega. Está de parabéns este jovem valor que merece e certamente irá ter mais oportunidades para progredir a partir da próxima temporada.

Em cada pega, normalmente, o cara é quem recebe o enfoque natural dos 8 elementos do Grupo que saltam à arena em cada pega, daí ser atribuída com alguma naturalidade a atenção maior nestes escritos ao dito “representante natural”. Na verdade, no Grupo de Vila Franca, a importância e a responsabilidade é distribuída, sempre foi e dificilmente deixará de o ser, é assim que neste Grupo se aprende desde pequeno. Hoje tomo a liberdade de referir alguns dos que “deram o litro” e espalharam categoria a ajudar em vários toiros nesta noite e contribuíram para esta grande noite de pegas: Bernardo Alexandre, André Matos, João Maria Santos, Bruno Tavares, Tiago Oliveira “Salsa”, Carlos Oliveira, Miguel Moura “Bazuca”, Diogo Duarte “Policia”, André Arrojado, José Francisco Pereira e claro, o incontornável Carlos Silva (Carlos do Sobral) que continua inigualável, com 6 exibições de luxo esta noite. Apesar de ter pegado o 2º toiro desta corrida, talvez tenha dado a 1ª ajuda de maior excelência da noite no 1º toiro da corrida, Emanuel Matos “Manu”, esteve ao seu nível, simplesmente fantástico!

Paulo Paulino “Bacalhau”

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