O culto da “Verdade”


A corrida comemorativa do 25º aniversário da TVI teve uma abordagem que retrata quase na perfeição o cuidado a ter em relação ao que deve ser a divulgação da Tauromaquia Nacional pela TV, nomeadamente da imagem que deve ser mostrada ao público não aficionado mas que gosta de Tauromaquia ou se interessa por este fenómeno e também ao aficionado que não se deslocou à Praça do Campo Pequeno, por razões diversas, mas que fica extremamente desgostoso ao ver os deprimentes espetáculos com que na maioria das vezes as transmissões televisivas de corridas de toiros em Portugal os têm brindado. Os verdadeiros beneficiados somos todos nós, os que sentimos paixão pela essência e verdade deste espetáculo único que tem sido tão maltratado por radicais agentes exteriores e, grande parte das vezes, também por pouco escrupulosos agentes “internos”.

Houve perigo, emoção, seriedade, arte, classe, transmissão… houve sempre verdadeiro toiro pincelado por toureio de verdade e algumas pegas de nível extraordinárias. No meio disto, uma noite de glória para o Grupo de Vila Franca que executou 3 pegas ao seu nível, bordadas a classe, valentia, emoção e muita noção do que deve ser um verdadeiro Grupo de Forcados onde cada elemento está ciente da responsabilidade de cada momento na arena e todos estiveram competentíssimos a honrar a verdadeira imagem que o Forcado Amador deve transmitir ao mundo.

Na cara destes toiros, o Vasco Pereira esteve imponente, diria mesmo, soberbo, frente a um toiro-toiro que colocou em sentido toda a praça, o Márcio Francisco mostrou o senhor que é na arte de saber pegar toiros difíceis e o Francisco Faria, depois de um brinde que representa muito mais que isso, esteve enorme e com a raça que se lhe reconhece na cara do seu toiro. O Grupo que ajudou, transformou as grandes dificuldades da noite em verdadeiras lições de saber estar numa praça e porque andam “lá dentro” não se limitando a ajudar os caras a pegar os toiros, deram espetáculo e representaram na perfeição o legítimo grito de revolta do verdadeiro Forcado Amador e dos Grupos de verdade em relação ao tratamento que lhes tem sido dado.

Para a história, fica a “visão” do Pedro Batalha na ilustração do que alguma crítica online da especialidade referiu desta corrida em relação à atuação do Grupo de Vila Franca, com a devida vénia aos seus autores. Foco apenas a crítica que merece ser referenciada. Aquela crítica que não trata o Forcado como um qualquer subalterno da corrida que se limitou a pegar à tentativa “x” ou “y”, mas sim a que trata o Forcado Amador como um figura da corrida, um “Cabeça de Cartaz” digno criador de emoções que funciona em Grupo e que nalguns casos sabe muito, mas mesmo muito de toiros e da arte de pegar toiros.

Site “Farpasblogue”

Dá como titulo principal do resumo desta corrida: “Corrida TVI: praça cheia, Graves menos graves, três grandes cavaleiros e um triunfo rotundo dos Forcados de Vila Franca“. Mais à frente refere que “… o espectáculo resultou mais pelo empenho dos toureiros e dos forcados, sobretudo os de Vila Franca (absolutos triunfadores), do que propriamente pelos toiros de Murteira Grave…” e refere ainda “… os Forcados Amadores de Vila Franca tiveram ontem um êxito rotundo com três pegões ‘do outro mundo’…“.

Na crónica da corrida, a atuação dos Forcados de Vila Franca é focada do seguinte modo pelo “Farpasblogue”:

Forcados de Vila Franca em noite de triunfo rotundo

Noite de glória para os heróicos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira – ainda e sempre, um grupo e peras. Ainda e sempre um dos grandes grupos deste país.

Foi enorme, assombrosa, a pega de Vasco Pereira, futuro cabo dos vilafranquenses. Um verdadeiro hino à nobre arte de pegar toiros. O toiro de Murteira Grave, que pouco se empenhara na lide, guardou todas as suas forças para o confronto com os forcados. Vasco citou-o com a tranquilidade que o caracteriza, pisou-lhe os terrenos, mandou-o vir quando quis e depois fechou-se com um par de braços que quase não é possível. Aguentou e aguentou os fortíssimos derrotes, até que foi ‘tirado de cena’ com violência e sem que os companheiros o pudessem evitar.

Na segunda tentativa, voltou a agigantar-se e a fechar-se com braços de ferro, aguentando de novo dois fortíssimos derrotes sem sair. O grupo fechou com tremenda coesão e decisão. Deu depois uma muito aplaudida volta à arena com António Telles e deveria ter dado outra, e outra, e outra. Enorme!

Márcio Francisco foi o forcado de cara dos Amadores de Vila Franca na segunda pega do grupo, ao terceiro toiro da noite. Forcado de créditos firmados e também de um valor sem fronteiras, consumou igualmente à segunda, depois de violentamente derrotado na primeira tentativa. Outra pega grande.

Para a cara do quinto toiro foi outro forcado de eleição. E de dinastia. Francisco Faria provocou a investida do toiro, recuou a mandar e a templar e fechou-se com decisão, executando à primeira outro pegão e assim encerrando com chave de ouro um triunfo rotundo do grupo.

Numa análise individual que o “Farpasblogue” dedica a cada pega, descreve as mesmas do seguinte modo:

A primeira pega da noite foi um hino à nobre arte de pegar toiros e marcou a corrida de ontem no Campo Pequeno. Vasco Pereira, que em Outubro sucederá a Ricardo Castelo na chefia dos Amadores de Vila Franca, forcado de dinastia, fez um pegão enorme à segunda tentativa, depois de ter aguentado uma enormidade de derrotes na primeira, acabando por ser derrotado quando já mais não podia. Na segunda intervenção, voltou a fechar-se com um par de braços que ‘não é possível’, com a força e a determinação de um Herói, aguentando de novo uma brutalidade de derrotes sem nunca sair e com os companheiros a ajudarem prontamente, fechando em força e com coesão. Deu uma volta à arena com António Telles, mas deveria ter dado duas, três, as que quisesse – porque merecia. Grande Forcado e grande Grupo de Vila Franca!

O consagrado Márcio Francisco, um forcadão com história feita, sofreu na primeira tentativa um derrote altíssimo e violento do toiro de Grave, acabando por consumar a pega à segunda, com elevado valor e muita garra, sendo muito bem ajudado pelos companheiros.

Forcado brilhante, forcado de dinastia (filho do antigo e histórico cabo Jorge Faria), Francisco Faria fechou ontem com chave de ouro uma noite de imensa glória para o Grupo de Vila Franca, ainda e sempre um dos grandes grupos deste país. O toiro arrancou quando ele quis, depois mandou na investida com a arte e a técnica dos eleitos e fechou-se com decisão, consumando à primeira e com os companheiros a ajudarem muitíssimo bem. Um pegão à maneira antiga, brindado a Alberto Mesquita, o aficionado presidente da Câmara de V. Franca.

Site “Tauronews”

Na crónica da corrida, a atuação dos Forcados de Vila Franca é focada do seguinte modo pelo “Tauronews”:

E, se de triunfadores falamos, é da mais elementar justiça destacar o nome do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, com três pegas onde apenas faltou alguma ponta de sorte para atingir um nível absoluto de perfeição. Em todo o caso, como é seu timbre, voltaram a deixar constância de uma Alma de Aço e de uma preparação técnica superior que, em conjunto, são a sua receita de sucesso para brilharem tanto mais quanto as dificuldades e a dureza dos toiros que enfrentam.

Coube ao futuro Cabo, Vasco Pereira, abrir a actuação do Grupo, ante o enorme “Bandido” que aparentava, efectivamente, intenções “criminosas”. As suas duas pegas, pois é disso que se trata, foram absolutamente indescritíveis, pela vontade e força que demostrou ao aguentar na cara os impressionantes derrotes durante as viagens e só não conseguindo consumar à primeira porque o toiro ainda tinha reservado dois últimos brutais “abanões”, antes das terceiras-ajudas fecharem por completo, o que permitiu que rodasse e despejasse o forcado, sem oposição. Na segunda tentativa, nada havia a corrigir por parte do Vasco, partindo novamente com calma e decisão, suportando uma entrada “bárbara” que o levou a dobrar as pernas ao nível da sua cabeça e contando com um extraordinário grupo atrás de si, destacando-se as intervenções do “primeiras” Diogo Duarte e do “segundas” João Maria Santos. Um verdadeiro Monumento, pelo qual o Forcado mereceria duas voltas à arena, solicitadas ruidosamente pelo público, mas que acabou por não dar. Seguiu-se Márcio Francisco, consagrada Figura da Forcadagem, unanimemente reconhecido como um dos mais duros e valorosos guerreiros que envergam actualmente a Jaqueta das Ramagens. Viu o “General” arrancar solto e parece ter faltado que alegrasse um pouco mais a sua viagem, sofrendo ainda um ligeiro estranho no momento da reunião, levando a que o toiro colocasse a cara de lado e aplicasse um enorme derrote, que de imediato expulsou o forcado. Na segunda tentativa, fruto de muita experiência acumulada, já foi ele que mandou por completo na pega, desde o momento do cite até ao recuar, a trazer a investida muito bem toureada, para se fechar com os habituais “alicates”, acabando o adversário por tropeçar, momento aproveitado pelo eficaz bloco de ajudas para fechar a pega. A encerrar a noite em beleza, o arquétipo da sorte de caras, por intermédio de Francisco Faria que, após um sentido e reivindicativo brinde ao Presidente da Câmara de Vila Franca, citou com “toreria”, recuou em passos curtos, com precisão milimétrica, recebeu no momento exacto, fechando-se com enorme garra e aguentando a dura viagem até à entregue e valiosa ajuda de João Maria Santos, desta vez nas primeiras, seguindo-se uma magnifica intervenção do segundas Bernardo Alexandre, com os restantes companheiros, a fechar a luta cá atrás com muita garra e decisão. Uma grande noite dos Amadores Vilafranquenses, em mais uma demostração cabal do porquê serem considerados como um dos melhores Grupos do país, assim haja oportunidades para o continuarem a demostrar.

Site “Naturales – Correio da Tauromaquia”

Na crónica da corrida, a atuação dos Forcados de Vila Franca é focada do seguinte modo pelo “Naturales”:

Enorme esteve o Grupo de Vila Franca de Xira em praça. Primeiro, por intermédio de Vasco Pereira, de um valor sem tamanho a aguentar a investida do toiro, mas tardou o Grupo e acabou por concretizar, novamente de forma valorosa, à segunda tentativa; Márcio Francisco viu o seu toiro humilhar na reunião, levantá-lo e atirá-lo ao chão. Ao segundo intento, fechou-se eficazmente e consumou; Francisco Faria reuniu à córnea de forma correcta e com uma grande pega e rija à primeira.

Posto isto, considero que a lucidez demonstrada nas análises dos responsáveis pelas crónicas destes sites relativamente à atuação do Grupo de Vila Franca e respetivas pegas na noite desta “Corrida TVI 25 anos” no Campo Pequeno, dispensam desta vez mais uma análise pessoal a cada pega na medida em que dificilmente iria acrescentar mais valia aos textos anteriores, dos quais corroboro a maioria das opiniões. Parabéns aos seus autores.

Paulo Paulino “Bacalhau”

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