Numa Palha Blanco esgotada, o Grupo de Vila Franca brilhou a um nível elevado


Após uma atuação quase imaculada e com momentos de puro brilhantismo na 1ª corrida da Feira frente ao complicado curro de Assunção Coimbra, a fasquia estava já suficientemente alta para se poder encarar esta 3ª feira noturna, a famosa noite de Exaltação ao Forcado com qualquer tipo de pensamento que não fosse a confirmação do excelente momento do Grupo de Vila Franca. A acrescer, ainda este “detalhe”, estava montado um cartel de confronto entre 2 das mais famosas e temidas ganadarias do mundo, Miura e Palha.

O primeiro tónico da noite foi o facto de estarmos na Palha Blanco com a lotação esgotada, literalmente, algo que já não sucedia há 17 anos. O 2º e talvez mais importante para quem vive o Grupo foi o facto de ver a grande quantidade de antigos elementos a viverem o momento com um entusiasmo tal, como se ainda estivessem fardados e fossem eles próprios a enfrentar em praça o curro dessa noite. Foi com a mistura de todos estes “condimentos” que o Grupo de Vila Franca entrou em praça para encerrar mais uma época, a 79ª da sua vida.

Saído o primeiro da noite, 670 kg de Miura a cumprir bem e com muito poder, o Ricardo Castelo quis dar o exemplo, numa tradição que a maioria dos grandes cabos que pegam de caras regularmente gostam de cumprir, abrir praça. Fez-se ao toiro com vontade de triunfar de imediato, mas apesar de ter vindo numa viagem que chegou até às tábuas, o Grupo não teve a capacidade suficiente para resolver o assunto de imediato. As quase 46 arrobas de toiro desta vez venceram. Partiu para a 2ª tentativa com mais vontade ainda, apesar de já diminuído fisicamente (ligamentos do pé desfeitos e fratura de perónio, veio-se a saber mais tarde) e mesmo sem conseguir recuar, esteve enorme, com um “leão” chamado Tavares a dar uma 1ª ajuda preponderante e o resto do Grupo a mostrar que esta era a noite do Grupo de Vila Franca, os Miuras e os Palhas que os perdoassem mas desta vez o espaço deles ia ser o de subalternos.

Volta sofrida para o Ricardo, por razões óbvias e chamada merecida para acompanhar na volta ao Tavares, com o detalhe de um Senhor Toureiro chamado António Telles a incentivar o aplauso aos Forcados no final da volta. Chama-se a isto aficion e saber estar numa praça, vindo de quem vem não é novidade.

Como o Ricardo teve de recolher ao hospital nesta altura, a partir do 2º toiro a responsabilidade de gerir o Grupo durante o resto da corrida recaiu sobre o Pedro Castelo. Com a maturidade que impera atualmente entre os elementos do Grupo, tratou-se apenas de um detalhe de ocasião, o pior foi mesmo a lesão do Ricardo.

O 2º toiro da noite, um Palha bem composto com 530 kg esteve também cumpridor durante a lide e o Pedro resolveu premiar um forcado emergente que já não é uma promessa, mais uma certeza neste momento, o Rui Godinho. Esteve ao nível que o conhecemos, sereno, com figura no cite, mandou na altura certa, aguentou e recebeu o que se pedia para o toiro em questão. O Grupo fechou com a mesma eficácia demonstrada pelo forcado da cara.

Para encerrar a 1ª parte, saiu mais um Miura com 580 kg um pouco bisco, algo “pastelento” durante a lide e para a cara saltou o Bruno Casquinha. Esteve ao seu nível normal, ou seja, a fazer tudo certo e desta vez, reencontrou a eficácia a que nos havia habituado. Mais uma vez o Grupo esteve à altura, o Ivo valente e as 3ªs muito bem no momento certo. Foi um bom culminar da primeira metade da corrida, o que transparecia era a coesão do Grupo e a concentração dos caras frente a oponentes sérios e a exigir.

O 4º toiro foi um Palha com 520 kg e o escolhido foi o Ricardo Patusco. Um forcado de eleição que demonstrou mais uma vez as qualidades que o tornaram no que é hoje em dia, em que alia uma técnica de experiência feita com uma grande qualidade a reunir, algo que aparenta facilidade em tudo o que faz. Como não podia deixar de ser, as ajudas voltaram a estar em plano alto e cada elemento fez o seu papel sem dar qualquer hipótese de falha que pudesse comprometer a pega.

O último Miura, com 630 kg, estava guardado para sair em quinto lugar nesta corrida. Pessoalmente considero que era o toiro mais sério da corrida, foi o que me transpareceu durante toda a lide e para a pega, aparentava dificuldades acrescidas para além da força que possuía. Para grandes toiros, grandes forcados e o Márcio era a escolha óbvia para saltar para a cara desta “locomotiva”. Foram 2 tentativas que provocaram as emoções mais fortes na superlotada Palha Blanco, esta noite. Cada passo que o toiro dava era um galão que equivalia a um derrote, chegou às tábuas com todos a “darem os 5 litros” e despejou os que ainda lá conseguiam vir agarrados com a facilidade com que se sacodem as moscas da mesa. Mas se havia algo que sobrava nos 8 que lá estavam, era fibra e partiram para a “guerra” da 2ª tentativa com vontade acrescida e uma enorme gana que transparecia em toda a praça de vencer este toiro, bruto, difícil e cheio de força. Foi uma “batalha feroz” quando nas terceiras o toiro se viu envolvido com oito “leões” que só o largaram quando finalmente se deu por vencido. Foi um dos grandes momentos da noite. Veio-se a saber que o Márcio já vinha de queixos partidos da pega dura de sexta-feira, tendo inclusivamente sido operado na quarta-feira seguinte à corrida para resolver os problemas que já trazia. A isto chama-se dar o que se tem e o que não se tem, exemplos a seguir pelos que pensam que são forcados, isto é ser um grande Forcado com grande sentido de Grupo.

Faltava o sexto da noite, um Palha com 550 kg e a precisar urgentemente de uma operação à vista mas felizmente com a nobreza suficiente para proporcionar um comportamento cumpridor. Saltou à praça um Grupo de Vila Franca já completamente ciente da missão quase cumprida com grande distinção e era uma questão de segundos, resolver este ultimo problema e abandonar o recinto com o sentimento de dever cumprido. O Pedro Castelo foi o cara e em boa hora, já que conseguiu impor a muita técnica que lhe é inerente e que sobrepôs as dificuldades de visão do toiro, fechando-se bem e com ganas até à entrada do Grupo, com destaque desta vez para o Ivo, André e Bernardo, deixando quase a ideia que não seriam necessários mais forcados para parar este toiro, o que é certamente irreal, já que apesar das boas entradas dos forcados da frente, as terceiras voltaram a ter papel preponderante na execução da pega.

Grande destaque para o Carlos do Sobral em praticamente todos os toiros, ele que deve ser certamente o forcado Português que mais Miuras rabejou e que sendo uma posição que não dá tanto nas vistas, consegue ter uma importância fundamental em toiros deste tipo, com poder e velocidade, já que entra bastante bem e consegue ligar muitas vezes o toiro ao Grupo, de um modo quase impercetível para o espetador comum, facilitando o trabalho aos ajudas.

O Petróleo, o Bazuca e o PJ foram outros grandes triunfadores da noite, já que esta era mesmo uma corrida para as terceiras brilharem e foi nesse papel que marcaram pontos nesta noite.

No final, justa chamada do Grupo e cavaleiros à arena para agradecer ao público que não arredou pé e uma entrega de prémios “Salomónica” aos maiorais das 2 ganadarias presentes.

Noite fora pegaram-se mais uns quantos “toiros” no local mais bem-disposto de Vila Franca, a nossa tertúlia… também cheia e com lotação esgotada, mas aqui já tem esgotado mais vezes a lotação, a bebida, essa não tem esgotado sabe-se lá porquê.

Paulo Paulino “Bacalhau”

Galeria: Todas as pegas da 3ª feira noturna, confronto Miuras – Palhas

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