Tradicional corrida mista da mini Feira Taurina de Vila Franca de Xira, este ano a ser efetuada na quinta-feira (feriado) por motivos que podendo não ser de concordância unanime, é perfeitamente aceitável e não vem mal ao mundo por isso. Os incómodos nesta corrida foram outros e certamente são escalpelizados nos locais adequados mas convenhamos que não é cómodo de todo – para público e artistas – aguardar mais 1 hora e 15 minutos após a hora marcada para se dar início à corrida.
Nesta tarde/noite quente, foram lidados a cavalo e pegados, um exemplar de Passanha e mais dois Graves, perante a cerca de meia casa que preenchia a Palha Blanco.
O toiro que abriu praça foi um Passanha que saiu regular de comportamento na lide, sem transmitir muito e cómodo de força. O cabo Ricardo Castelo optou pelo quase estreante Guilherme Dotti, um dos valores emergentes da cantera que tem dado as indicações necessárias para ser opção para pegar de caras na Feira e como tal a oportunidade surgiu naturalmente. O Guilherme esteve concentrado e com noção, desde o momento que se chegou à trincheira antes do toque da pega, até chegar ao ponto de não retorno, tendo pelo meio um cite em que teve sempre a noção da necessidade de quadrar bem o toiro com a figura antes de mandar na investida. Por culpa do estado físico do toiro, o objetivo foi parcialmente conseguido visto que o toiro saiu numa investida descomposta, ensarilhando até chegar ao Guilherme que teve a perfeita noção de ter de recuar a consentir sem se descompor até ao momento certo, no que foi bastante eficaz. Do mesmo modo, foi eficaz a fechar-se à córnea e a aguentar as sacudidelas do toiro durante a viagem até à entrada de um conjunto coeso de ajudas que completou o consumar de uma boa pega deste jovem forcado que transmitiu atitude.
O toiro que abriu a segunda parte foi um Grave bem composto que transmitiu seriedade, bastante encastado, investia sempre de menos a mais, altura em empregava o muito poder que tinha e não perdoava quando as distâncias eram propícias. O forcado da cara escalado foi o David Moreira “Canário”, forcado confiado e num bom momento. O cite foi bem conseguido, ritmo pausado dos médios para a frente, a chamar bem a atenção ao toiro que arrancou para o forcado interessado mas a medir, sem nunca romper, apesar do “Canário” ter tentado alegrar corretamente mas era a investida caraterística deste toiro, de menos a mais. A reunião foi uma batalha toiro/forcado com uma entrada brutal pelo céu de Vila Franca grupo dentro e com o forcado da cara a subir pelo toiro que só teve alguma oposição nas tábuas, altura em que “despachou” o David Moreira mais o Bernardo Alexandre e o Carlos Oliveira, ajudas que estavam já lá em cima mas ainda não montados, para além de 2 barras do estribo da trincheira, com grande estrondo, causando de imediato uma má sensação em toda a praça, agravado pelo facto do forcado da cara ter acabado no solo sem se movimentar. Foram momentos que avivaram de imediato os nefastos acontecimentos recentes.
Põe maca, tira maca, abre porta, fecha porta… confusão … aparentemente surgida de um “iluminado” sem noção que orientou os bombeiros para levarem o “Canário” inanimado na maca em direção à enfermaria pelo caminho mais longo, a dar uma volta quase completa à arena. Negligência brutalmente perigosa pelos segundos que se perdem e que podem vir a ser essenciais em caso de necessidade extrema. Felizmente tudo acabou em bem e tirando esse detalhe criado por um néscio de fora, tudo o resto foi um verdadeiro compêndio de como se deve proceder em situações destas, com as pessoas certas através dos métodos certos, nos tempos certos e com recurso às condições certas. O corpo clínico da enfermaria da Palha Blanco coordenado pelo Dr. Luis Ramos, é um verdadeiro “case study” de sucesso neste meio taurino nacional.
Abstraindo-se do resto, o grupo reorganizou-se e focou-se apenas em pegar este toiro já com o Francisco Faria na cara. Foi com calma para o toiro, aproveitou o primeiro sintoma de investida que foi prontamente alegrada e trancou-se com toda a convicção, desta vez com ajudas dispostas praça fora, mais rigorosamente espaçadas, pelo que apesar de querer e poder, o grupo quis e pôde mais e já não lhe deu a margem de manobra para se libertar da teia montada, consumando-se deste modo a pega mais séria desta feira.
O último toiro que calhou ao grupo de Vila Franca nesta Feira foi um Grave também ele sério, menos perigoso que o anterior por ser mais franco e previsível na investida e não demonstrou comportamentos estranhos numa lide em que se deixou tourear bem. Foi sem surpresa que o cabo concedeu o papel de forcado da cara para este toiro ao Vasco Pereira que acabou por completar a tarefa ao segundo intento. Na primeira tentativa, esteve correto no cite a tentar chamar a atenção ao toiro que distraído nas tábuas tardava em fixar-se no forcado que aguentava na zona dos médios e mal se virou investiu franco, mantendo o comportamento normal da lide. No momento da reunião descompôs-se ligeiramente, já à procura e isso originou que o forcado lhe perdesse a cara, gorando-se deste modo a reunião. Na segunda tentativa, a parte inicial da pega foi muito idêntica, mas desta vez o toiro já não veio pronto, fixando o cara que desta vez esteve perfeito, provocou bem e aguentou um pouco mais que na primeira tentativa, a fixar a investida, o que facilitou uma reunião perfeita onde se fechou com ganas numa viagem em que o toiro bateu e empurrou bem, grupo dentro, que esteve bastante eficaz e coeso a fechar a pega já nas tábuas.
Atuação que sem ser perfeita foi positiva e convincente. Mistura de juventude e experiência, o grupo de Vila Franca demonstrou que eficácia, coesão, respeito pelo toiro e saber estar em praça, continuam a ser, e bem, palavras de ordem. O melhor de tudo é que à noite, pelo final do jantar, já tínhamos o “Canário” novamente connosco, libertado que foi após os exames efetuados no hospital.
Paulo Paulino “Bacalhau”