Grande exibição com toiros duros nas Caldas da Rainha


A praça de toiros das Caldas da Rainha registou uma excelente casa, apenas com algumas clareiras na sombra, para assistir a esta corrida em que o Grupo de Vila Franca dividia cartel com o Grupo das Caldas da Rainha para pegar um curro de uma ganadaria com tradição de dureza, Fernandes de Castro.

Na verdade, os Castros saíram ao seu nível, a pedir “contas”, com alguns de muita qualidade, nomeadamente o primeiro e terceiro toiros (embora com estilos diferentes) e salvo o segundo da ordem, que saiu sem classe, todos os restantes cumpriram muito bem.

O primeiro toiro em praça com 540 Kg proporcionou uma excelente lide ao cavaleiro, saiu com uma nobreza extraordinária, sempre voluntarioso e combativo, tendo inclusivamente proporcionado ao ganadeiro chamada a dar volta no final. Para o pegar de caras, o forcado escolhido foi o Rui Godinho. O Rui vinha de um momento de grande dureza no “mansarrão” de Moura, facto que não criou no forcado e no restante Grupo qualquer resquício negativo, pelo contrário, serviu para cimentar a moral e a auto-estima generalizada do Grupo. O Rui esteve muito sereno e compenetrado no cite, carregou mandando à distância adequada, fixou o toiro, recuou bem e recebeu melhor, trancando-se na córnea de modo muito consistente. Era tal a consistência que o toiro ainda tentou sacudir o forcado sem sucesso durante uma que viagem que entrou Grupo dentro que com o habitual empenho e competência, encerrou esta pega que até pareceu fácil, pelo modo imaculado como as coisas foram feitas

O terceiro toiro da noite, com 495 Kg, segundo para o Grupo de Vila Franca, foi no meu citério pessoal de toiro para lide a cavalo com forcados, o grande toiro da corrida. Sem dúvida que foi um digno representante da ganadaria Castro pelos detalhes de mobilidade, nobreza e emoção que transmitiu durante toda a lide, nunca de modo cómodo, pelo contrário, exigiu bastante do cavaleiro que teve de se arrimar perante as investidas francas e poderosas do oponente que respondeu sempre em crescendo ao castigo durante a lide e também sempre com aquela deliciosa e inerente nobreza. Por consequência, não era difícil adivinhar que iria exigir do Grupo de Forcados na pega. O privilegiado forcado escalado para a cara na pega deste toiro foi o Vasco Pereira. Mal o forcado iniciou o cite, aí vem toiro, de largo e pronto para a guerra mas o Vasco percebeu imediatamente o que havia a fazer nessa fração de segundos. Aguentou, ajudando a fixar com o mando da voz um oponente que respondeu ao excelente temple do forcado humilhando e acabando por entrar aos joelhos do forcado, algo que o Vasco se encarregou de corrigir através do modo como rapidamente se enrolou na córnea, bem fechado e a aguentar os dois derrotes iniciais do toiro, uma boa entrada do Tavares nas primeiras, mas o toiro entretanto mudou de rumo antes das segundas, surgindo muito bem o André Arrojado, nas segundas, a “dar o corpo às balas” até à recuperação do resto do Grupo que fechou esta grande pega, em mais uma intervenção exemplar de um forcado da cara e de um Grupo que têm estado, e mostraram continuar, num grande momento.

O último toiro da noite para o Grupo de Vila Franca, com 520 Kg, cumpriu bem durante a lide, era sério mas sem manifestar comportamentos comprometedores e o cabo achou por bem dar a responsabilidade de ser cara ao forcado David Moreira, pela primeira vez nesta época. O “Canário” vinha de recuperar totalmente da lesão no joelho que o apoquentou em Outubro passado na Feira de Vila Franca e este seria o seu primeiro contacto da época, já que nem nos treinos participou por se encontrar ainda em recuperação. Na primeira tentativa, esteve bem em todos os detalhes desde o cite ao receber, mas não se trancou convenientemente e saiu num derrote forte à entrada do Grupo. Na segunda tentativa, mais do mesmo nos tempos iniciais da pega, mas desta vez recebeu e trancou-se bem na córnea do Castro, o Diogo Duarte deu uma primeira oportuna e apesar do toiro também alterar a rota nas segundas, os ajudas nunca se descompuseram e conseguiram com sucesso ter sempre forcados a “acamar” o cara, acabando por se fechar esta pega, mais uma vez com grande competência.

Um bem frequentado, animado e muito bem servido jantar em Salir do Porto no restaurante Porrinhas dos Leitões foi o culminar ideal de uma noite e madrugada bem passados. Posto isto, Vinhais aguarda o Grupo de Vila Franca para o próximo compromisso.

Paulo Paulino “Bacalhau”

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