Foi às 16.30 horas de domingo 6 de Maio, com tarde ensolarada e quente que na Centenária Palha Blanco se iniciou a denominada “Corrida das Tertúlias”, tendo sido nesta corrida que o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira se apresentou à aficion nesta temporada 2018. Dividiu praça com o Grupo de Coruche para pegar um curro de Vale Sorraia, ganadaria na celebração dos seus 70 anos, bem apresentado e que criou dificuldades a todos os intervenientes com uma inerente transmissão de emoção para as bancadas. A recém-regressada empresa Tauroleve teve uma entrada imaculada nesta nova fase em Vila Franca e os mais de três quartos de casa preenchidos, comprovam esta tese.
Tomava alternativa de cavaleiro profissional, David Gomes, apadrinhado por António Telles e que contou ainda com o testemunho de Luis Rouxinol. Face ao comportamento dos toiros nas várias lides, os ginetes nunca conseguiram estabelecer níveis artísticos muito elevados nas suas atuações, embora cumprindo e conseguindo a rasgos alguns detalhes de nota elevada mas sem destaques de triunfo, acabando por ser os toiros (pela transmissão) e as pegas (pela emoção) a dar alma a uma corrida que na generalidade foi agradável. Quando sai o “toiro”, é necessário atingir níveis de superação, algo que é fundamental para marcar a diferença.
O primeiro toiro da tarde saiu à praça, possuidor de uma apresentação superior nos seus 490 Kg, muito bem armado, instinto de lutador e com mobilidade pese alguma tendência ocasional de resguardo nas tábuas de sombra/sol. O forcado da cara que abriu temporada foi o Vasco Pereira secundado a primeiro ajuda pelo seu irmão José Francisco Pereira. Brinde sentido a uma pessoa especial que na barreira do céu, certamente os seguiu e aplaudiu nesta primeira tarde de toiros afastado da sua sempre estimada presença física junto ao seu grupo de sempre. O futuro cabo do Grupo, esteve irrepreensível face ao que o oponente exigia, assertivo nos tempos, a citar, carregar, aguentar e recuar, fechou-se à córnea num estilo que já é imagem de marca e o resto do grupo esteve extremamente coeso e decidido a ajudar e a rematar esta bela pega, que pareceu fácil, mas foi “apenas” facilitada pela técnica e pelo modo como o forcado se fechou na cara do toiro. O Mané certamente aplaudiu. Volta merecida para o Vasco.
O terceiro toiro da tarde foi o mais franco da corrida, 550 Kg bem apresentados onde transpareceram modos que sem ser de pura bravura, sobressaiu um comportamento encastado quando respondia às sortes durante a lide equestre e maioritariamente dispensando querenças ou terenos de eleição. A já referida franqueza do toiro, acabou por trair o forcado da cara escalado para esta pega, o Francisco Faria. O toiro ao virar-se à voz não chegou a ganhar uma real fixação no forcado que não teve oportunidade de mandar e foi uma entrada totalmente descomposta o resultado da investida solta do toiro nesta tentativa inicial do Francisco. Na segunda tentativa, já não houve precipitações, tudo foi feito com a seriedade necessária e apesar de nova investida franca do toiro o Francisco já o tinha provocado bem, fixando-o à figura, sendo que a partir daí foi a técnica individual do forcado e o modo pronto como os ajudas interpretaram esta pega que culminou mais uma boa e eficaz atuação nesta tarde. No final, volta para o Francisco.
O quinto toiro, também ele de boa apresentação nos seus 525 Kg que em oposição ao terceiro, mesmo não sendo o mais reservado da corrida, foi um toiro complicado para a lide do cavaleiro, com “tarrascadas” altas no momento do castigo e que raramente deu hipóteses de alguma ligação, graças às investidas de alguma imprevisibilidade, eventualmente alicerçadas por algum defeito de visão a determinadas distâncias. A fechar a tarde no que toca à atuação do Grupo de Vila franca, um forcado que dispensa apresentações, uma figura por direito próprio da forcadagem Portuguesa, Márcio Francisco. Se a primeira tentativa se resume a uma investida em falso apenas a roçar no forcado, a segunda tentativa demonstrou a força e as capacidades do toiro que com o forcado da cara fechado na córnea, após uma reunião poderosa, rapidamente encurralou o grupo de ajudas contra as tábuas e acabou por “fugir” ingloriamente pelo lado do piton esquerdo, que acabou por ficar descoberto, deixando um amontoado de forcados por terra, entre eles o Márcio. Já não se tratava apenas de uma pega, passou a ser também uma batalha. Foi com este espírito guerreiro que se assistiu na terceira tentativa a uma lição de como se pega um toiro complicado, em que o querer venceu o poder, a garra venceu a brutalidade, de como a inteligência e a superação se uniram para vencer este combate sem tréguas. O toiro deu o que tinha, o Márcio deu o que tinha e o que não tinha, o primeiro ajuda Diogo Duarte acreditou incondicionalmente no forcado da cara, estiveram enormes e o resto do grupo acreditou neles, concretizando uma pega complicada, difícil de descrever mas deliciosa de ver, todos imponentes do primeiro ao último. Volta no final para o Márcio e para o Diogo, rematada com agradecimento nos médios.
Depois desta brilhante intervenção, o Márcio acabou por ter de ser assistido no Hospital de Vila Franca de Xira e no momento em que sai este escrito, ainda se encontra hospitalizado em Loures a recuperar de lesões na zona abdominal que felizmente estão controladas e em breve lhe será dada alta, sendo este certamente o fator mais importante de todos. É com atitudes e momentos destes que se escreve a história de um verdadeiro Grupo de Forcados.
Paulo Paulino “Bacalhau”