Enorme, vibrante, trepidante, assim podia ter sido a primeira corrida da feira de Outubro 2013 em Vila Franca de Xira. Mas é sabido que “o Homem põe, Deus dispõe e o toiro descompõe”. Cartaz bem composto: os míticos toiros Palha; os forcados da terra e os visitantes de Évora; os cavaleiros a caminho da consagração, Vítor Ribeiro, Manuel Telles Bastos e Salgueiro da Costa. Só faltou uma coisa: emoção. Porque toiro havia. Mas tudo podia ter estado melhor, até servidora podia ter estado melhor no olhar e no escrever. E ter escolhido, por exemplo não fazer esta crónica. Mas não pude dizer não ao Paulo Bacalhau, antigo elemento entregue sempre aos forcados e a página web do Grupo. Aproveito Paulo este espaço público para lhe agradecer os seus finos relatórios (sms) que reclamo quando não posso assistir às vossas corridas, conhecimento que me resgata da ausência, da inquietude do não saber e dão-me alívio e sempre orgulho.
Sabe-se que Vila Franca acumula a memória do aroma do toureio. Assim é que a praça de Palha Branco reconhece-se de olhos vendados, pela respiração do lugar, é chegar ao sitio onde se respira toiro, onde a gente percebe e onde também há forcado (fardados e fardados na alma na bancada). Por isso, espera-se tudo e de todos. A noite do sábado não foi das que dão afición mas também não foi das que a tiram. Só faltou uma coisa: um cobertor porque a falta de emoção sempre da frio; e o medo, pior, se não se ultrapassa.
Os Toiros de Palha foram bem apresentados em geral. Trapio mais que aprovado, outra coisa foi a casta, a nobreza e a entrega. Bravo um e outro meio; três desluzidos na acometida, um sério, dois deles parados na querença ou cansados de investir. Vinham dum encierro onde sem dúvida apanharam sentido e fadiga. Os letárgicos cabrestos não queriam saber nada deles. Nem para fazer um favor ao cernelheiro João Maria e ao Carlos do Sobral, que o segundo toiro da pega –quarto na lide – e apos três tentativas – numa delas o rabejador a fazer esqui aquático – não conseguiram cernelhar, acabando por despachar o tramite Rui Godinho asseado e valente, com os ajudas carregados.
Mas antes tinha cumprido perfeitamente no primeiro toiro da pega de Vila Franca o forcado Márcio Francisco firme e com torería, com a grande dimensão de forcado que ele tem, na pega a um toiro bem apresentado e que justificou e cumpriu na lide, sendo rematada com boas ajudas a começar por uma primeira ajuda do Manu. Tudo isto à primeira.
A pega do último toiro da noite, foi de Ricardo Patusco. Com fibra e soberbo, sem ser pega sublime, foi perfeita. Ivo a dar primeiras também. Resto das ajudas igual, a brilhar sem encadear.
Mas o mistério é porque é que todos acabamos a noite do sábado (antes de dar entrada na festa pela noite dentro) a falar da escolha da pega em cernelha, quer dizer do erro que foi eleger essa sorte quando era evidente que o toiro dava uma bela pega de caras, diziam também que era óbvio os que estavam na feira. Até o meu primo de Vitigudino falava da evidência de ter pegado de caras esse toiro. Ay! A escolha. Disto só sabe e não o sabe o Cabo Ricardo Castelo. A escolha não existe. Nem é ma, nem é boa. Logo se toma uma opção desaparecem todas as outras. Porque se não resultar, poder-se-ia ter escolhido outra mas se resultar positiva ninguém se lembra da opção que não se escolheu. Eleger é algo assim como ser lançado a água apôs ter aprendido a nadar por internet. Há um ditado espanhol que disse: “Quien bien tiene y mal escoge, por mal que le venga no se enoje” algo assim como “quem tem o bom e escolhe o mau, não se pode zangar caso as coisas resultem mal”.
E estávamos no quinto toiro e o sapiente Platanito na bancada disse com brio: “Menina não te sujes!” mas era dirigido a menina que passava carregada de copos a frente de nós na bancada. O toiro estava na areia sem sujar ninguém.
Esta não foi uma atuação de 360º (redonda) como tantas outras que os Forcados de Vila Franca nos deram, mas quem vai lembrar mais grau menos grau. Escolha má escola boa. As meninas não se sujaram nem desferraram a bomba, Platanito reparava, enquanto o veterano Senhor Salsa me dava a receita dos bifes em cebolada. Obrigada. Servidora já dispersa. Até terça! SORTE!
Maria José Garcia