3ª Feira Nocturna – Noite de exaltação ao Forcado Vilafranquense


Para o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira esta é a corrida mais importante da temporada, foi com muito esforço e grande luta que à mais de trinta anos, os elementos que componham o nosso Grupo, tendo como Cabo o Exmo. Sr. José Carlos de Matos conquistaram o direito a pegar 6 toiros nesta data tradicional.

Para o conseguir ficaram quase uma temporada sem pegar em Vila Franca de Xira, mas confiando no seu valor e acreditando que era uma exigência justa e merecida, acabaram por fazer valer a sua vontade.

Hoje em dia é uma luta que não temos de travar, os empresários respeitam esta data e até tentam promover a corrida com base no facto do Grupo enfrentar 6 toiros nessa noite.

Desde o ano 2003 que esta corrida é também um concurso de ganadarias, o que mais uma vez aconteceu este ano.

Depois de termos feito 3 corridas no espaço de 4 dias (1 no Campo Pequeno e 2 em Vila Franca), este foi o 4 espectáculo em 6 dias num total de dezassete toiros.

Com muita confiança e algum cansaço o Grupo apresentou-se na “Palha Blanco” com todos os seus actuais elementos, excepto os que continuam aleijados, que são os nossos companheiros e amigos – Carlos Carvalho “Carlitos”, Paulo Conceição e Pedro Henriques e a quem tivemos o prazer de brindar uma das pegas da noite.

Por curiosidade são três valorosos forcados que pegam de caras e que reduzem as alternativas, mas felizmente o Grupo tem um lote alargado de soluções que permitem colmatar qualquer baixa, mesmo em corridas importantes e com 6 toiros para pegar.

Logo no sorteio percebi a seriedade da corrida que o Grupo teria de enfrentar, que acabou por ser ainda mais dificultada pela mansidão apresentada por todos os toiros que saíram à arena, mesmo o toiro da ganadaria Vinhais que ganhou o prémio de bravura, que em minha opinião deveria ter ficado em branco, criou muitas dificuldades quer pela força, quer pela forma como tentou “despachar” o forcado da cara.

Foi um lote de toiros que exigiu dos forcados e que não perdoaram os poucos erros que foram cometidos nesta noite.

1º Toiro da noite da Ganadaria José Lupi, com o N.º 95 de 4 anos e 521 Kg de peso, tinha a córnea para cima mas ligeiramente fechada, “obrigando” a escolher um forcado mais magro que conseguisse efectuar uma reunião perfeita. Tinha ainda a agravante de ter de aguentar a pressão de abrir praça nesta noite tão importante e depois das últimas boas actuações. A escolha do forcado Rui Graça acabou por ser acertada tal a forma como soube estar em praça, brindando ao público, mostrando tranquilidade e não se precipitando mesmo quando da bancada lhe pediam para se mostrar melhor ao toiro.

Concordo com o facto de o toiro necessitar de um chamar mais alegre para sem sentir provocado e poder arrancar de mais largo, mas essa não foi a opção do forcado, e como conseguiu fazer bem a sua maneira, só tenho de lhe dar os parabéns.

A escolha deste forcado, também não terá merecido a total concordância de quem conhece bem o Grupo, mas fui eu que estive no sorteio e penso que li bem a corrida. É certo que arrisquei, até porque o Rui não tinha estado bem na última pega que realizou (a 15 de Setembro na Praça de Toiros da Nazaré) e podia “acusar” a responsabilidade, mas também é verdade que ele costuma efectuar boas reuniões, faltando depois alguma técnica de braços para suportar os derrotes de toiros mais duros.

Este toiro aparentava ter apenas algumas dificuldades na reunião, porque depois até o tipo de córnea ajudava o forcado a ficar na cara. Fui isso que aconteceu, após mudar de terrenos ao toiro, este acabou por se arrancar com más intenções, mas o Rui aguentou-lhe bem a investida, sacando-se em três ou quatro passos curtos e efectuando uma reunião dura mas limpa, e fechando-se de pernas e braços (à córnea) sendo depois bem ajudado por todo o Grupo. Volta para o Cavaleiro João Salgueiro e para o Forcado.

2º Toiro da Ganadaria Vinhas, com o N.º 24 de 4 anos e 579 Kg, ganhou os dois prémios em disputa (apresentação e bravura), foi realmente o que melhor se comportou na lide permitindo ao rejoneador Leonardo Hernandez o triunfo da noite. Não sou entendido na matéria e respeito a opinião do júri, mas na avaliação que faço nem este toiro merecia o prémio, ainda para mais num espectáculo em que existiu comportamentos de mansidão em todos os toiros que saíram à arena. Para a pega foi escolhido o Forcado Pedro Castelo, a atravessar um grande momento e vindo já de 2 pegas consecutivas (na quinta-feira no Campo Pequeno e na sexta em Vila Franca).

O Grupo tinha outras alternativas, e até podia deixar o Pedro descansar nesta corrida tal como aconteceu na corrida de domingo onde este forcado não se fardou, mas essa não era a sua vontade, e efectuar uma época extraordinária como ele realizou, onde pegou 12 toiros (11 á 1ª tentativa e apenas 1 à 2ª tentativa) e depois não pegar na terça feira nocturna, seria uma grande injustiça.

Com grande determinação e brindando ao seu Tio e Ex-Cabo do Grupo, o Exmo. Sr. José Carlos de Matos, citou de mais de meia praça, o toiro deu um passo ligeiro e o forcado carregou tentando aproveitar, mas este não se quis arrancar, depois foi-se chegando ao toiro, para o voltar a provocar mais em curto, aguentar a investida, recuar o suficiente para reunir com grande determinação. O toiro que já havia arrancado com velocidade ainda embalou mais e foi pelo Grupo dentro empurrando com força e derrubando vários ajudas, quando se aproximou da teia começou a sacudir para os lados tentando tudo para tirar o forcado da cara, que com muita alma e uma grande ajuda do André Matos (2º ajuda), aguentou-se muito bem até os outros elementos conseguirem recuperar e fechar mais uma grande pega.

Volta triunfal para o Cavaleiro, para os Forcados Pedro Castelo e André Matos, que também está de parabéns pela magnifica época que realizou (85 segundas ajudas, muitas delas decisivas, é obra!).

3º Toiro da Ganadaria Passanha, com N.º 29 de 4 anos e 530 Kg, saiu á praça ligeiramente “apalpado” das patas, mas penso que recuperaria, até porque depois saíram mais 2 toiros com evidentes dificuldades que acabaram por se deixar lidar. O Director de Corrida mandou recolher o toiro e as dificuldades aumentaram, porque o sobrero era um exemplar da ganadaria de Lopo de Carvalho com idade e peso e de muita seriedade, além de uma córnea também ligeiramente fechada.

Acabou por sair o toiro que estava previsto para ser lidado em último lugar também da ganadaria de Lopo de Carvalho, ficando o sobrero para último da corrida.

Este toiro com o N.º 98 de 4 anos de idade e 548 Kg de peso, foi-se deixando lidar, nunca se empregando dando a sensação que se estava a reservar e no capote defendia-se um pouco.

O Cavaleiro João Telles Júnior empregou-se a fundo para cumprir e foi conseguindo desgastar o toiro. Para a cara foi o Forcado Ricardo Patusco que brindou ao Comissário da Policia de Segurança Pública de Vila Franca de Xira e à sua maneira tentou alegrar bem o hastado com a intenção que este investisse entre a meia praça e os tércios, tentando dar-lhe algum andamento de forma a evitar a acção de defesa que o toiro já havia indicado no capote dos bandarilheiros.

Mas o toiro demonstrando estar cansado “obrigou” o forcado a chegar-se mais perto para então, e após mais uma insistência do forcado arrancar-se lento e tentar logo defender-se, sacudindo a cabeça para o lado esquerdo, o Ricardo Patusco soube sacar-se, e conseguiu evitar esta manobra do toiro, esperando o momento certo para se fechar à córnea de forma perfeita e não dando mais qualquer possibilidade. O Grupo fechou com eficácia e a pega pareceu fácil.

Volta para o Cavaleiro e Forcado, depois de muita insistência do público com o João Telles Júnior que não queria dar volta, mas a culpa foi toda do toiro e o público reconheceu o esforço do jovem.

O 4º toiro da Ganadaria de São Torcato com o N.º 9 de 4 anos e 547 Kg, tinha uma córnea larga e ligeiramente descaída, mais propícia para um “barbeleiro”. Este animal veio na linha dos outros embora denotando mais poder, foi-se reservando com meias investidas e chegou à pega ainda com muito para dar. Para a cara o Forcado Ricardo Castelo, também ele confiado por uma época de excelentes pegas e moralizado pela grande pega que executou à 4 dias atrás, no Campo Pequeno e vista por todo o Portugal via RTP.

Esta foi a pega brindada aos forcados que se encontram aleijados, o Ricardo citou a mais de meia praça, tudo feito com muita classe, sem precipitações encurtou distâncias provocou, aguentou, recuou, o toiro entrou muito forte, mas o forcado conseguiu suportar o 1º derrote, embora tenha ficado ligeiramente solto de um braço, com grande determinação voltou a ganhar a cara ao toiro e foi aqui cometido o primeiro erro da noite, quando os ajudas foram surpreendidos pela velocidade do toiro e não conseguiram dar algum aconchego, o toiro foi se empregando chegando solto perto das tábuas e num derrote violento de cima para baixo, despachou o forcado da cara, mesmo nas “barbas” dos 3º ajudas, sendo um deles, ainda violentamente colhido contra as tábuas. Faltou também alguma sorte, porque mesmo com este impressionante último derrote, o forcado ainda ficou com um braço no toiro, mas o corpo acabou por cair fora da córnea devido ao facto do toiro quando baixou a cara ainda ter puxado a cabeça para o lado direito.

Na 2ª tentativa, novamente tudo bem feito pelo Ricardo Castelo, mas este era um dos toiros que exigia um Grupo a ajudar e isso voltou a não acontecer, a reunião era muito dura e era necessário após esse forte 1º derrote existisse logo algum auxilio ao forcado da cara para este poder recuperar, tal não aconteceu e desta vez o forcado foi desfeiteado quando ia a chegar aos 2º ajudas.

A 3º tentativa com o 1º ajuda mais em cima, a pega acabou por ser concretizada, mas com o toiro ainda a empurrar até às tábuas, levando todo o Grupo bem agarrado.

O Forcado deu uma merecida volta com o Cavaleiro João Salgueiro. Por vezes pegar à 3ª tentativa não implica que se tenha estado mal, embora o Grupo pode-se ter feito melhor, principalmente as ajudas, o Ricardo Castelo teve uma das tentativas mais duras que vi esta temporada.

O 5º toiro da Ganadaria de Luís Rocha, com o N.º 56 de 4 anos e 535 Kg, foi o mais manso de todos, fugiu várias vezes ao castigo, saltou as tábuas, fez de tudo um pouco, e tinha força que nunca mais acabava. Honra seja feita ao Cavaleiro Leonardo Hernandez que nunca desistiu de tentar lidar um toiro que não tinha lide e esforçou-se para conseguir colocar a ferragem da ordem. A cara era curta e estava um sério problema dentro da praça, além de outro ainda dentro dos curros.

Bem, mais primeiro deve-se resolver o que está na arena e como tal, toca para a volta. O Cernelheiro Olavo Cabaço e o Rabejador Carlos Silva “Sobral”, brindaram ao Cabo do Grupo de Forcados Mazatlecos (Mazatlan – México), o Exmo. Sr. José Tirado Osuna “Réne”.

O toiro não encabrestava bem, embora os campinos fossem conseguindo encobrir o toiro com os cabrestos, o que Cabaço aproveitou para entrar, mas nunca o conseguiu de forma a intimidar o toiro, ou seja, em força contra o corpo do animal, teve sempre de andar a contornar os cabrestos e o toiro mantinha-se em movimento constante. Após a 1º entrada o toiro demonstrando toda a sua pujança dá um salto colocando todas as 4 patas no ar e conseguindo com as traseiras “sacar” o cernelheiro. As coisas não estavam fáceis e o tempo foi passando, o Cabaço ainda conseguiu chegar-se ao toiro mais três vezes mas nunca conseguiu entrar bem de forma a ganhar vantagem nesta luta corpo a corpo. Ao 3º toque do Director de Corrida o tempo estava esgotado e o toiro iria ser recolhido, formou-se um Grupo para tentar pegar o toiro de caras e os seis forcados saltaram para dentro da praça, para juntamente com os dois que já lá estavam a tentar a pega de cernelha perfazer os oito que formam um Grupo.

Quase em desespero de causa e num alarde de valentia o cernelheiro arrisca uma última tentativa de entrar, quase com o toiro destapado e a fugir por todos os lados consegue lá ficar tendo o rabejador estado muito bem, porque nunca deixou de acompanhar o colega e ajudou a consumar esta pega com a praça de pé a reconhecer a enorme vontade dos dois forcados. Bonito gesto dos outros seis forcados que acreditando que o seu colega iria conseguir, retiraram-se da arena, ainda antes da pega estar consumada.

O Olavo Cabaço arriscou tudo e esteve a um pequeno passo de uma “barracada”, mas aquela arrancada que mais parecia em desespero de causa, afinal foi um ir buscar forças onde já não existiam e uma vontade de conseguir concretizar a pega que o levou a superar-se numa fase em que já eram notórias as suas fracas condições físicas.

Desta pega devem ser retiradas algumas ideias e certamente que o Grupo saberá estudar esta situação para que no futuro as coisas sejam feitas com mais classe. Mas também é verdade que a vontade de pegar pode ajudar a superar obstáculos que parecem intransponíveis, e eu escrevi algo sobre este tema, no último artigo que publiquei neste site “….é nestas situações que devemos analisar os motivos e procurar soluções teóricas que no futuro possam ajudar a resolver melhor este tipo de problemas. Tendo sempre presente que dentro da arena, quando as coisas se complicam, as nossas possibilidades de êxito são proporcionais a nossa vontade em efectuar a pega….”!

Muitas vezes a distância entre a “tragédia” e o “triunfo” é tão pequena. E se criticamos quando no fim as coisas correram mal, também temos de felicitar quando no fim tudo acabou bem, afinal a praça estava de pé a aplaudir e “obrigou” os Forcados a darem volta. Parabéns Cabaço e Carlos, mas por favor não nos façam sofrer tanto.

O 6º Toiro da Ganadaria de Lopo de Carvalho com o N.º 107, tinha 4 anos e 555 Kg, era o sobrero e não entrou a concurso, mas também não podia ganhar. Era mais um toiro complicado que teve um cavaleiro a aplicar-se ao máximo, queria triunfar, mas não teve sorte com o seu lote. João Telles Júnior tudo tentou, ainda conseguir animar as bancadas com os seus ferros de violino seguidos de um ferro curto e deu a lide possível.

Para a cara o Forcado Márcio Francisco, um jovem que se estriou este ano a pegar nos Forcados Amadores e que tinha tido até ao momento uma grande temporada. Era sem dúvida o teste mais difícil. Com uma grande tranquilidade, brindou à equipa médica da Praça de Toiros “Palha Blanco” e colocou-se a meia praça citando com muita galhardia, teve algumas dificuldades em prender a atenção ao toiro que se encontrava com muito sentido em tudo o que se mexia na trincheira.

O Forcado foi-se chegando aos terrenos do toiro e provocou a investida, aguentou bem e recuou o estritamente necessário para se fechar com grande determinação, com o toiro a empregar-se e a derrotar alto, mas córnea ligeiramente fechada e tudo o Grupo a ajudar muito bem, com especial destaque para o 1º ajuda Bruno Tavares (mais um forcado que fez uma excelente época, estando em grande forma).

Terminamos a corrida com alguns forcados tristes por não terem pegado, mas também têm de reconhecer que acabaram por pegar aqueles que estiveram melhor durante a época e esta é a nossa corrida mais importante, como tal devem pegar os que estão em melhor forma, embora por vezes e com o desenrolar da corrida as coisas podiam ter tomado outro rumo.

Veja-se o caso do Forcado Diogo Pereira que foi escolhido para a cara do 5º toiro e chegou a saltar para dentro da praça, mas que felizmente acabou por ser pegado de cernelha, naquelas circunstâncias era o elemento que apresentava melhores condições para resolver o problema.

A época ainda não terminou, se não chover ainda vamos ter mais duas actuações, pelo que é importante não estragar o que está feito, embora após a terça-feira nocturna exista uma certa “descompressão”.

Abraço.

Vasco Dotti

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